Antes eu não te conhecia. O mundo se abria em possibilidades. Andava pela rua distraidamente a enumerar afazeres, de cabeça quente por causa do calor e de preocupações inúteis. Havia uma leveza e um vazio, minhas mãos soltas pendendo inúteis, tocando o nada - o ninguém. Até que preencheram-se de ti, de tua solidez que foi o meu complemento. Abrupto, suave, finito. Tua presença me acompanha, imprimida sob a pele. (Me pergunto onde andarás). Mãos grandes, lábios quentes, princípio de amor. Adeus. Minhas mãos abertas te entregam novamente aos céus. Voas para além do horizonte, fugaz, foge de mim. Mas antes fode, fode, fode. Então foge. Encadeia-se assim, novamente, meu pequeno amor, meu início de apego, carinho findo. Foder e acabar-se. Agarro-me a ti de olhos cerrados. Te posso sentir, mas não te vejo. Chamas meu nome docemente, e "Tchau".
Disseste que esperavas que não me esqueceste de ti. Agora é tu que te esqueces de mim.
E tu estás em meu apreço, meu apego.
Te chamo uma vez mais. Ainda olho pra trás. Ainda olho pra trás. Percebo, minhas mãos pendem ao vento.
Se é que sequer te conheci. Agora misturado com o gosto e o rosto de outros amantes, agora que teu riso não me alcança mais o ouvido, que teus ouvidos não comportam mais meus gemidos. Agora que foges e não mais fodo contigo.
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
terça-feira, 16 de julho de 2013
Noturno Soturno
Não ganharás nada mais
Que algumas rimas pobres
Teus silêncios sepulcrais
A meus olhos não são nobres
Tua fuga é tão sorrateira
Tua ausência sempre certeira
Não me atinges mais, soturno
Nem quando esmorece noturno
(Esperar por ti é como
Segurar um fôlego que não)
Esperar por ti é como
Torcer por uma lua em Júpiter
e Saturno
Não, noturno
Te fechas e és envolto por névoa
Que não ousarei perpassar
Pois remanesça soturno
E eu, por ti
Não mais ouso rimar
Há um entrave em minha trama. Ela é feita só de nós que não consigo desvelar. Não há o que contar além do sufoco dos gritos e o desague das lágrimas na fronha do travesseiro. E a quem importa? Pessoa já dizia, não importa, pois nada importa. Acordo sozinha mais uma vez. Sucedo em escrever-te mais um poema. Me calo.
E sou feita de calos e silêncios impostos. Nada desejo independentemente: queria querer (por outrém, a outrém), queria que quisessem por mim. O que resta é imobilismo e agonia. Quando pego uma caneta, escrevo o mesmo lamento. O pânico da existência sem sentido. Instrumentalizada sem espírito. Sem respostas para perguntas infundadas.
Voluntariamente, me calo.
Que algumas rimas pobres
Teus silêncios sepulcrais
A meus olhos não são nobres
Tua fuga é tão sorrateira
Tua ausência sempre certeira
Não me atinges mais, soturno
Nem quando esmorece noturno
(Esperar por ti é como
Segurar um fôlego que não)
Esperar por ti é como
Torcer por uma lua em Júpiter
e Saturno
Não, noturno
Te fechas e és envolto por névoa
Que não ousarei perpassar
Pois remanesça soturno
E eu, por ti
Não mais ouso rimar
Há um entrave em minha trama. Ela é feita só de nós que não consigo desvelar. Não há o que contar além do sufoco dos gritos e o desague das lágrimas na fronha do travesseiro. E a quem importa? Pessoa já dizia, não importa, pois nada importa. Acordo sozinha mais uma vez. Sucedo em escrever-te mais um poema. Me calo.
E sou feita de calos e silêncios impostos. Nada desejo independentemente: queria querer (por outrém, a outrém), queria que quisessem por mim. O que resta é imobilismo e agonia. Quando pego uma caneta, escrevo o mesmo lamento. O pânico da existência sem sentido. Instrumentalizada sem espírito. Sem respostas para perguntas infundadas.
Voluntariamente, me calo.
domingo, 14 de julho de 2013
Encara a capa do livro. Comprime seus olhos tentando estancar as lágrimas. Mentira. Quisera ser capaz de fabricá-las. Mantém-se distante tentando segurar uma dor fantasma, que não mais sente. O que já fora plácido branco agora é encardido. Tentara limpar aquela capa inúmeras vezes, quisera mais do que tudo no mundo restaurá-la. Só conseguia pensar na dedicatória cravada em nanquim na folha de rosto. O esboço do esforço. As promessas e desculpas vãs. Devia tirar todos aqueles livros velhos da estante se quisesse arrancar aquela página de sua vida. Mas eram tantas páginas doloridas que teria de arrancar de modo a limpar todo aquele ranço! Ficaria apenas o vazio. O vazio de todas as relações que não sobreviveram ao conflito entre individualidades. “Somos tão bobos”, pensa com amargor. Não ousava mais acreditar no conforto encontrado em outrem. De súbito, toma o livro velho em suas mãos e abre a página da dedicatória. Oito anos atrás.
Só posso prometer não fazer promessas.
Bom começo: isentar-se de toda e qualquer culpa. Ninguém seria responsável senão por seus próprios nariz e umbigo. Riu pelo nariz e sentiu o rancor repuxando suas vias aéreas como se fosse um gancho. Havia bradado tão ferozmente “me deixem em paz”, quando ainda em busca de sua própria liberdade, que a ironia de sua própria ingenuidade era como fumaça. Sufocava. O pior era sempre conseguir o que se quer e perceber como não havia significado profundo algum naquilo. Era livre. Não derramava uma lágrima sequer ao ler aquela dedicatória, não sentia raiva, tristeza, saudades. Não sentia nada. Livre de obrigações para com os outros, livre de qualquer culpa. Foi-se embora com seus próprios pés, era decisão sua e foi respeitada. Ninguém tinha o direito de intervir na vida dos outros. Por isso sua ingenuidade de há oito anos era fumaça, havia sido dissipada por completo. “Ser livre é ser sozinho?”, indagava ainda com certa incredulidade, ainda com incrédula certeza. Ser livre é ser sozinho. Nem os anos que se passaram tinham o poder de pesar em seu espírito. Pai, mãe, irmão, amigos... O que eram as pessoas senão instrumentos?
Não acredito nisso. Você está distorcendo minhas palavras.
Claro que também não acreditava naquilo. Bem, claro que acreditava. Quisera não pensar daquela maneira, mas foi-se encaminhando para essa conclusão cada vez mais. Olhava friamente nos olhos do outro. “Então me amas? Não sei mais o que isso significa”. Será que era porque nunca havia amado? Não, não amara ninguém. Tão somente porque elevara o amor a status tão nobre e puro que jamais seria capaz de senti-lo. E jamais seria capaz de acreditar que outro ser humano conseguisse ser tão puro e tão nobre.
Ah, as coisas como são.
Moveu-se após meia hora de imobilismo letárgico. Abriu a janela e acendeu um cigarro. Fumava demais, bebia demais. Era incapaz de controlar seus excessos. Mas porque fazia o que queria. Não tinha obrigação de se controlar, por ordem de alguém, por crença em algo, por amor – sacrifício, abnegação, elevação espiritual. Quem ainda levava esse tipo de coisa a sério? Terminou seu cigarro e apagou-o na capa do livro. “Você não significa nada”. Atirou-o pela janela. Se ao menos tivesse coragem de atirar-se... aí sim que aquele ciclo infindável e inescapável teria um fim.
Porque tudo o que te faz mal é fruto de tua própria paranoia.
Só posso prometer não fazer promessas.
Bom começo: isentar-se de toda e qualquer culpa. Ninguém seria responsável senão por seus próprios nariz e umbigo. Riu pelo nariz e sentiu o rancor repuxando suas vias aéreas como se fosse um gancho. Havia bradado tão ferozmente “me deixem em paz”, quando ainda em busca de sua própria liberdade, que a ironia de sua própria ingenuidade era como fumaça. Sufocava. O pior era sempre conseguir o que se quer e perceber como não havia significado profundo algum naquilo. Era livre. Não derramava uma lágrima sequer ao ler aquela dedicatória, não sentia raiva, tristeza, saudades. Não sentia nada. Livre de obrigações para com os outros, livre de qualquer culpa. Foi-se embora com seus próprios pés, era decisão sua e foi respeitada. Ninguém tinha o direito de intervir na vida dos outros. Por isso sua ingenuidade de há oito anos era fumaça, havia sido dissipada por completo. “Ser livre é ser sozinho?”, indagava ainda com certa incredulidade, ainda com incrédula certeza. Ser livre é ser sozinho. Nem os anos que se passaram tinham o poder de pesar em seu espírito. Pai, mãe, irmão, amigos... O que eram as pessoas senão instrumentos?
Não acredito nisso. Você está distorcendo minhas palavras.
Claro que também não acreditava naquilo. Bem, claro que acreditava. Quisera não pensar daquela maneira, mas foi-se encaminhando para essa conclusão cada vez mais. Olhava friamente nos olhos do outro. “Então me amas? Não sei mais o que isso significa”. Será que era porque nunca havia amado? Não, não amara ninguém. Tão somente porque elevara o amor a status tão nobre e puro que jamais seria capaz de senti-lo. E jamais seria capaz de acreditar que outro ser humano conseguisse ser tão puro e tão nobre.
Ah, as coisas como são.
Moveu-se após meia hora de imobilismo letárgico. Abriu a janela e acendeu um cigarro. Fumava demais, bebia demais. Era incapaz de controlar seus excessos. Mas porque fazia o que queria. Não tinha obrigação de se controlar, por ordem de alguém, por crença em algo, por amor – sacrifício, abnegação, elevação espiritual. Quem ainda levava esse tipo de coisa a sério? Terminou seu cigarro e apagou-o na capa do livro. “Você não significa nada”. Atirou-o pela janela. Se ao menos tivesse coragem de atirar-se... aí sim que aquele ciclo infindável e inescapável teria um fim.
Porque tudo o que te faz mal é fruto de tua própria paranoia.
Teu silêncio, meu alívio
Bem sei que poderias me mandar notícias. Vejo-te trancado em seu quarto parcamente iluminado, onde luzem apenas a tela do computador e o sol poente que invade as frestas das cortinas. Teus livros estão amontoados na escrivaninha, tuas dúvidas todas jogadas e embaralhadas frente aos teus olhos cansados, tuas mãos inquietas a bagunçar teus cabelos. Construíste para ti, com êxito exuberante, este gabinete hermético. Do alto de tua torre, idealiza tons incandescentes para quebrar com teu cinza, descontrair teu cenho. Meu cinza não te indica o que desejas alcançar. Bem sei. Estamos juntos apenas em confusão e desarmonia – no austero monotom. Não sabes. Estás tu em tua torre; eu entregue ao sumidouro. Te dignas a baixar os olhos brevemente. Não me reconheces em minha verdadeira forma. E a verdade que sei, muito embora te supondo nessa torre imponente, cujo cimo corta impiedosamente o céu fechado, é que transbordas de fosso profundamente escavado. Suponho.
Regozijo na tua falta de notícias. É aí que anseio a quebra da monotonia, contendo-me contente na contemplação da memória de tua figura esguia. Não preencho teus silêncios com minhas fantasias. Tão somente teus silêncios que fazem cessar o fluxo excessivo da minha consciência demente. Preencho teus silêncios com os meus, tecendo a mais perfeita sinfonia. Te acalmes. Não fales, pois que nosso entendimento mútuo é a ausência de palavras. Deixo esparsas ondas de tua maré baixa expurgarem minha costa. Costas retorcidas, deformidade causada por desorientação. Leve pluma é meu sono nos breves momentos de descanso ao teu lado. Vento brando à beira-mar: sopras em meus ouvidos o meu próprio nome, em interrogação. Ouço o som das ondas varrendo a praia. Tuas mãos deslizam suavemente sobre mim por um breve momento. A mais breve carícia, até em simplicidade e hesitação. É a única que aceito. Gesto sincero.
Cala-te. Pois que não desejo de ti nada que seja insincero. Percebe, pois. É tua nau que acalma meu oceano inquieto. Explora (a)a vontade e no ritmo ditado pelo tempo! Explora também outros oceanos, ao passo em que permito que outros em mim naveguem. Mas, volta, porque és conquistador, não da presa inerte, nem do selvagem incapaz. Conquistador, contudo, de um indivíduo que te aprecia e te respeita. Conhecedor de águas profundas. Faças uso dos meus silêncios e perdoai minhas metáforas, ainda que delas te esqueças – quando do alto de tua torre. Fecha-te de mim, hermético. Agradeço tua distância, meu espaço de ar doce e puro. Teu silêncio é meu alívio.
O que digo nunca é o que sinto. O que escrevo é o que invento de mim. Nada me proponho a contar, o mundo é só decepção e o que me passa não é memorável. Mas as memórias me sufocam. Tento organizá-las cronologicamente, causa-e-consequência, linha ascendente. Algo faz sentido? Ah, a razão! Poderia utilizá-la para compreender, mas já a perdi há algum tempo.
O REVÉS DO VIÉS EM SUA CONTRAPARTE.
Regozijo na tua falta de notícias. É aí que anseio a quebra da monotonia, contendo-me contente na contemplação da memória de tua figura esguia. Não preencho teus silêncios com minhas fantasias. Tão somente teus silêncios que fazem cessar o fluxo excessivo da minha consciência demente. Preencho teus silêncios com os meus, tecendo a mais perfeita sinfonia. Te acalmes. Não fales, pois que nosso entendimento mútuo é a ausência de palavras. Deixo esparsas ondas de tua maré baixa expurgarem minha costa. Costas retorcidas, deformidade causada por desorientação. Leve pluma é meu sono nos breves momentos de descanso ao teu lado. Vento brando à beira-mar: sopras em meus ouvidos o meu próprio nome, em interrogação. Ouço o som das ondas varrendo a praia. Tuas mãos deslizam suavemente sobre mim por um breve momento. A mais breve carícia, até em simplicidade e hesitação. É a única que aceito. Gesto sincero.
Cala-te. Pois que não desejo de ti nada que seja insincero. Percebe, pois. É tua nau que acalma meu oceano inquieto. Explora (a)a vontade e no ritmo ditado pelo tempo! Explora também outros oceanos, ao passo em que permito que outros em mim naveguem. Mas, volta, porque és conquistador, não da presa inerte, nem do selvagem incapaz. Conquistador, contudo, de um indivíduo que te aprecia e te respeita. Conhecedor de águas profundas. Faças uso dos meus silêncios e perdoai minhas metáforas, ainda que delas te esqueças – quando do alto de tua torre. Fecha-te de mim, hermético. Agradeço tua distância, meu espaço de ar doce e puro. Teu silêncio é meu alívio.
O que digo nunca é o que sinto. O que escrevo é o que invento de mim. Nada me proponho a contar, o mundo é só decepção e o que me passa não é memorável. Mas as memórias me sufocam. Tento organizá-las cronologicamente, causa-e-consequência, linha ascendente. Algo faz sentido? Ah, a razão! Poderia utilizá-la para compreender, mas já a perdi há algum tempo.
O REVÉS DO VIÉS EM SUA CONTRAPARTE.
terça-feira, 25 de junho de 2013
Momentum
-A gente é muito novo pra ser feliz para sempre. – ela me diria pela enésima vez, suspirando enquanto dava de ombros. E com um ar casual e indiferente, refreava mais uma vez todos os meus sonhos de uma casa de dois andares, com três cachorros e talvez algum filho.
Ela não consegue perceber que quando se quer ser feliz para sempre, não se quer esperar para fazer com que essa felicidade se concretize. Continuo a andar atrás de sua sombra com passos receosos e tortos. Pode-se dizer que estou à espreita, cauteloso até demais. Não quero assustá-la, sinto que qualquer movimento exagerado fará com que ela saia em disparada. De qualquer forma, sei que ela caminha muitos passos a minha frente, sempre distraída de mim.
Como adivinhar seus pensamentos? Sei que estão pairando no ar ao meu redor, mas é sempre impossível captura-los. Mais impossível ainda é capturar o seu olhar, sempre perdido em algum universo distante. Como saber que ela pensa que é muito cedo para se feliz para sempre porque não acredita em felicidade, muito menos numa que seja perpétua? E de que modo poderia eu adivinhar que minha cautela é o motivo de toda essa distância? O que ela quer é a brusquidão, como um sentimento que lhe dê um soco na cara, e não que seja brisa suave em um rosto pálido. Ela não é a visão que dela tenho através das minhas lentes biconvexas. Não é a donzela que aguarda, plácida e serena, com as mãos repousando suavemente sobre o colo encoberto por uma longa saia. Ela é uma mulher que segue caminhando, apesar dos riscos, das bestas no escuro, das encruzilhadas sem trilha. Segue caminhando porque não consegue parar, ainda que não saiba por onde ir, ainda que não tenha quem lhe aponte a direção.
Eu a deixei escapar, e não sei ao certo uma explicação decente para isso. Estava desacordado, fui induzido à inconsciência por minha própria insensibilidade, pela dormência total e absoluta em meus sentidos. Pensava que as coisas podiam permanecer imutáveis se a fechasse em uma redoma de promessas imperfeitas, que só fizeram com que nossas possibilidades todas se partissem. Queria ser capaz de congelá-la em um momento e ela, sempre zombando do meu conservadorismo, queria que tudo fosse movimento. Não consegui perceber que ela queria a fluidez das ondas e do ar frio das manhãs para que nosso amor pudesse se mover através deles, e não ser superado pelo movimento. Não tive forças para acompanha-la.
Ela não consegue perceber que quando se quer ser feliz para sempre, não se quer esperar para fazer com que essa felicidade se concretize. Continuo a andar atrás de sua sombra com passos receosos e tortos. Pode-se dizer que estou à espreita, cauteloso até demais. Não quero assustá-la, sinto que qualquer movimento exagerado fará com que ela saia em disparada. De qualquer forma, sei que ela caminha muitos passos a minha frente, sempre distraída de mim.
Como adivinhar seus pensamentos? Sei que estão pairando no ar ao meu redor, mas é sempre impossível captura-los. Mais impossível ainda é capturar o seu olhar, sempre perdido em algum universo distante. Como saber que ela pensa que é muito cedo para se feliz para sempre porque não acredita em felicidade, muito menos numa que seja perpétua? E de que modo poderia eu adivinhar que minha cautela é o motivo de toda essa distância? O que ela quer é a brusquidão, como um sentimento que lhe dê um soco na cara, e não que seja brisa suave em um rosto pálido. Ela não é a visão que dela tenho através das minhas lentes biconvexas. Não é a donzela que aguarda, plácida e serena, com as mãos repousando suavemente sobre o colo encoberto por uma longa saia. Ela é uma mulher que segue caminhando, apesar dos riscos, das bestas no escuro, das encruzilhadas sem trilha. Segue caminhando porque não consegue parar, ainda que não saiba por onde ir, ainda que não tenha quem lhe aponte a direção.
Eu a deixei escapar, e não sei ao certo uma explicação decente para isso. Estava desacordado, fui induzido à inconsciência por minha própria insensibilidade, pela dormência total e absoluta em meus sentidos. Pensava que as coisas podiam permanecer imutáveis se a fechasse em uma redoma de promessas imperfeitas, que só fizeram com que nossas possibilidades todas se partissem. Queria ser capaz de congelá-la em um momento e ela, sempre zombando do meu conservadorismo, queria que tudo fosse movimento. Não consegui perceber que ela queria a fluidez das ondas e do ar frio das manhãs para que nosso amor pudesse se mover através deles, e não ser superado pelo movimento. Não tive forças para acompanha-la.
Outubro
Tenho rememorado nossas tardes de Outubro
Nossos medos eternos, em espanto conjunto
De uma memória claudicante que persiste
Trazendo um pranto dissonante e puro
Caloroso Outubro, já prenunciava o doce Setembro
Findava-se um ciclo de dor lancinante
Perecendo um amor há muito agonizante
Do golpe fatal desferido por anjo guerreiro
Que se torna criatura bestial na mente insana
Qual vista é nublada por teus mistérios
Pois que se faz silêncio inescrutável
Fresco e lépido Novembro
Trouxe o gélido Dezembro
Anuncia-se o novo ano de esperança e novidade
Mas aí que tu persistes na lembrança
Nossos medos eternos, em espanto conjunto
De uma memória claudicante que persiste
Trazendo um pranto dissonante e puro
Caloroso Outubro, já prenunciava o doce Setembro
Findava-se um ciclo de dor lancinante
Perecendo um amor há muito agonizante
Do golpe fatal desferido por anjo guerreiro
Que se torna criatura bestial na mente insana
Qual vista é nublada por teus mistérios
Pois que se faz silêncio inescrutável
Fresco e lépido Novembro
Trouxe o gélido Dezembro
Anuncia-se o novo ano de esperança e novidade
Mas aí que tu persistes na lembrança
terça-feira, 29 de janeiro de 2013
Johari
Eu aberto, eu fechado
Alto-mar, ilha insólita
Sol rachando o céu nublado
Tu secreto, sentindo em código
Eu, você, os outros
E o silêncio de significados
Nós dois: um encontro
num edifício condenado
Também vês os explosivos
nos alicerces enferrujados?
É nosso fim preconizado
Eu cego, eu fechado
Todos os eus dilacerados
Do mar aberto à mata cerrada
Vegetação rasteira não vira substrato.
Alto-mar, ilha insólita
Sol rachando o céu nublado
Tu secreto, sentindo em código
Eu, você, os outros
E o silêncio de significados
Nós dois: um encontro
num edifício condenado
Também vês os explosivos
nos alicerces enferrujados?
É nosso fim preconizado
Eu cego, eu fechado
Todos os eus dilacerados
Do mar aberto à mata cerrada
Vegetação rasteira não vira substrato.
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