terça-feira, 19 de abril de 2016

Café

Café
Fê cá
De fe cá
Escrever qualquer coisa
Qualquer qualquer qualquer alguma
socorro é constipação no cérebro
tem laxante pra isso?
Encontrei você de novo.
Vamo lá, fala alguma coisa
Você não sabe mais falar?
Não sabe mais escrever
Não confia nas palavras
Odeia as palavras
Todas elas ou só as suas?
Dizem que tem que chorar
Torrencialmente
E o fluxo de palavras vai acompanhar
Cadê café cadê a fé cadê o papel higiênico
Fumar cafezar olhar pro nada
Incomodar um estranho por causa de um carregador de celular
Só pra não escrever mais um pouco
Pra me decepcionar e me martirizar
Você não é mártir coisa nenhuma!
Eu sei que não
Esse é o problema
Quando eu acreditava que eu era ALGUMA COISA
Tudo fluía.
Será?
Ser-nada.
Serenar
Trabalhar
pra ter como pagar a conta do bar
Mas eu fico tão cansada, nem quero mais ir pro bar
Caralho o cara foi até o carro dele buscar um carregador pra mim
Espero que ele não espere nada
um homem fazendo um ato desinteressado?
Não me culpe por achar que isso não existe
NUNCA VI.
é tão difícil perceber todas as vezes que a gente já foi abusada
mas era tudo em nome do amor
pro Homem nos amar
porque essa é nossa função
Isso não é um poema
Isso foi um ato
o de depois do café
o de não ficar
e de fecar

Era mais fácil quando eu sabia escrever em prosa. Aí veio essa mania de poeta e eu fico metida a escrever uns versos. Que nem rimam. Que nem são interessantes. Que nem eu.
Fragmentada.
Será que eu já soube quem eu sou? Que crise banal. Mas isso é tudo. Como pode um ego tão de proporções titânicas cheio de autoflagelação, insegurança e irritação? Por isso que não tem Deus. Deus ia deixar esse tipo de coisa, por acaso?
A ser mulherana. Que coisa feia isso de ficar inventando palavra pra poder se sentir gente, né? Dia desses escrevi que eu era Membra de um conselho editorial. Não deixaram. Não pode ser membra, fere a norma culta. A norma dos homens humanos com AGÁ.
Um homem me emprestou o carregador dele. Não tô dizendo que ele tá aqui na biblioteca achando que vai rolar alguma coisa nem nada sabe. Mas pra que ser legal assim? Não faz sentido não. Mas e aí, eu só vou falar com mulher agora?
Eu bem que queria às vezes.
Nem é, eu tenho amigos homens, eu gosto de alguns deles.
Mas eles podiam não ser tão AGÁ às vezes, sabe?
Será que falar comigo mesma adianta de alguma coisa?
Sei lá, eu nunca me respondo. Eu fico me perguntando e me procurando mas não tem nada ali. Nadarrrrrr. Eu fico procurando nas outras pessoas mas eu acho que ninguém me aguenta. Pode ser tão insegura assim?
Ela me falou pra pensar o que é amor pra mim. Eu sei lá. Acho que eu nem acredito nessas coisas. Mas como pode não acreditar e ao mesmo tempo querer pra mim?
Buscando eu não tô. Queria mais é que caísse no meu colo. Terceira página. E nada de capítulo da dissertação. Na-da. Mais café? Mais coco? Acho que é porque eu to menstruada. Eu não quis falar na natação hoje porque eu não queria ser fraca. Nada a ver. É o contrário. A gente sente uma cólica danada e segue com a vida. Mas a vida podia pegar leve às vezes né? Mas que mania de ficar falando mal da pobre vida. Ela dá muita coisa e a gente só sabe cobrar mais.
Por isso minha obsessão com os cães. Cães na praia. Correndo pras ondas, depois fugindo delas e repetindo isso inúmeras vezes. Pra eles isso é brincadeira. É sem nenhum custo, sem sofrimento. Parece ser.
E se eu só parar agora?
Eu vejo a cara que eles fazem quando veem que eu tenho pelo no sovaco.
Mas eu não ligo; ligo um pouco.

Seria bem mais fácil só raspar