domingo, 4 de março de 2012

Experiência?

Sinto que não tenho o que dizer, que sou apenas forma e nenhum conteúdo, que os dias vão passando incontáveis e indistinguíveis impulsionados apenas pela força do tempo - e não por forças humanas, por paixões, realizações, conquistas. Desejo encontrar momentos vividos em que a banalidade se torna singularidade, tenciono imortalizá-los - ao menos na minha memória. Mas o tempo castiga a todos, isso é frase feita e verdade inegável. O tempo me impulsiona para frente e, por mais que eu deseje ficar presa ao passado, presa aos meus sentimentos ditos originais, sou obrigada a seguir em frente. Os fatos, pessoas, olhares, indigestões e desesperos se desprendem de mim seguindo em direção à uma descarga mental que segue em movimento espiral. Por vezes há um refluxo, uma tristeza me abate de súbito mais forte do que nunca; entretanto aquilo é passado, fica apenas como experiência e nada além. Experiência sendo aquilo que optamos por entender do que vivemos, porque nunca conseguimos analisar os fatos objetivamente, a sequência dos acontecimentos e das palavras são sempre misturados, as significações sempre ampliadas ou reduzidas. E ficamos com as interpretações que fomos capaz de fazer a respeito da vivência - experiência. Sinto-me tão atordoada por isso que sou incapaz de sentir. Então devo me corrigir: reconheço o atordoamento, mas meu coração repousa inerte em sua gaiola torácica.

Mentira!

Ando tendo dificuldades para escrever porque geralmente trato de sentimentos e, ultimamente, não tenho sentido. Tenho princípio de sensações: uma nostalgia imaginada ao passar em frente à minha antiga escola, uma suposta angústia por saber que os outros estão em sua maioria enganados ao meu respeito. Imagino o peso que deveria estar-me atormentando a consciência por mentir a todos sobre tudo com tanta naturalidade, por hábito e não por necessidade. Acostumei-me de tal maneira a mentir que ficou fácil mentir para mim mesma. Encontro-me então impedida de sentir, porque afinal de contas acabei por tornar-me uma ótima mentirosa. Tenho consciência de que estou em uma situação perigosa, mas nem ao menos sinto vertigem. Talvez eu esteja buscando um limite. Contudo, ao pensar sobre o que me tem acontecido, parece que, para uma pessoa que sempre foi tão verdadeira com seus sentimentos, as mentiras operam de uma maneira asfixiante.