terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Johari

Eu aberto, eu fechado
Alto-mar, ilha insólita
Sol rachando o céu nublado
Tu secreto, sentindo em código

Eu, você, os outros
E o silêncio de significados
Nós dois: um encontro
num edifício condenado

Também vês os explosivos
nos alicerces enferrujados?
É nosso fim preconizado

Eu cego, eu fechado
Todos os eus dilacerados
Do mar aberto à mata cerrada
Vegetação rasteira não vira substrato.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

"Darcy made no answer. He seemed scarcely to hear her, and was walking up and down the room in earnest meditation; his brow contracted, his air gloomy. Elizabeth soon observed and instantly understood it. Her power was sinking; every thing must sink under such a proof of family weakness, such an assurance of the deepest disgrace. She should neither wonder nor condemn, but the belief of his self-conquest brought nothing consolatory to her bosom, afforded no palliation of her distress. It was, on the contrary, exactly calculated to make her understand her own wishes; and never had she so honestly felt that she could have loved him, as now, when all love must be vain."

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013


afã
(origem controversa)
s. m.
1. Pressa e ânsia. = SOFREGUIDÃO
2. Grande actividade ou trabalho intenso. = AZÁFAMA
3. [Figurado] Grande desejo. = ÂNSIA, APETÊNCIA
4. Sentimento de preocupação. = ANSIEDADE
-O silêncio também é uma resposta – ela diz num sussurro, me perfura de canto de olho e com um esgar.

Caminha calmamente, como se estivesse caminhando através de mim. Sai pela porta da sala e vai conversar com seu grupinho de amigos. Pra eles, sorrisinhos e risadinhas. Para mim, apenas silêncio. O silêncio que compartilhamos é indecisão. Ela é de uma inconstância que me impossibilita a ação. Permanece muda, com seus lábios selados para mim e, atravessando novamente a sala - a passos lentos - fecha a janela que há poucos instantes havia escancarado. O vento é como geada cortante e ela não tem um agasalho, tão somente porque se recusa a ter. Olha em meus olhos por alguns instantes e, como se mudasse de ideia, transfere sua atenção para a ponta de seus cabelos, as plumas em sua blusa, os cortes em sua mão. O silêncio é a incompreensão imposta. É uma resposta aos meus olhos que sempre encontram os dela a qualquer menção de aproximação. É um encerramento. Vedação nas entradas de ar. Ela não quer que eu a veja. Sentada próxima à janela com os cabelos ao vento, o que ela quer é ser apenas mistério. Há uma névoa em seus cabelos, e foi ela quem a confeccionou. Não há mistério, só um véu negro para encobrir o vazio. Insistir em responder suas epístolas não postadas é minha loucura maior. Recolho do lixo esses pedacinhos da alma dela, tão valiosas confissões. Ignoro não estarem endereçadas a mim, enquanto seus destinatários reais sequer conhecem sua existência.

-O silêncio é um embaraço. O fim desse caminho tortuoso é incognoscível. Estou atada a um passado, em mim sempre presente.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Electioneering

Porque a força de uma ideia me alça um lance de escadas acima, impulsiona meu punho fechado a bater em sua porta, abre meus lábios em sorriso, ainda que incerto; enche de ar meus pulmões ainda que me deixe ofegante. Não tenho escutado nada além das vozes da loucura em minha mente, ainda que os outros tenham tentado me dirigir a palavra, a linguagem é distinta e eu não a compreendo. Não tenho escutado porque não estou pronta para ouvir. Deixam-me às voltas com minha própria solidão, geleira envolta por lava, eterno calafrio, ruminação pútrida, indigestão com arroto fétido. Fico porque não escuto quando me chamam, apesar dos ecos dispersos, ondas sonoras que colidem nas paredes de gelo e apenas me confundem. Não sei pra qual direção devo me encaminhar para poder encontra-los, ou sequer se devo continuar a segui-los. Ah, o desencontro que se segue aos desentendimentos!

Estamos às voltas nos passos descompassados de uma dança desajeitada: tu valsas, aos tropeços, eu recolho-me ao fundo do salão: não sei dançar. Além disso, sua presença imobiliza-me todos os músculos, articulações, ventrículos, pálpebras, meus dois pés esquerdos, minha face pálida de profundas olheiras. Se dou um passo a frente, tu recuas. Ao ver-me recuar, avanças. Se eu vou pra frente, você vai pra trás, um dia hemos de nos encontrar. Parece-me uma lógica inexata e não quero mais dançar. Outras pessoas dançam ao nosso redor – num repente de desvario trocamos de par. A música passa a ser executada em tom mais suave, o ar do salão torna-se mais ameno. Outras mãos na minha cintura passam a me conduzir, com firmeza decisória que me faz entrar no compasso. O salão se desfaz, nada disso importa e estou em seu corredor.

Tu abres a porta, enfim, e o que te digo são incógnitos impropérios e lhe parece encriptado, também hablo outro idioma. Vielleicht ein bisschen Deustch. Não me alcanças, nossos olhares perdem-se no abismo da incompreensão. Não peço que me entendas, concedo resignada. Apenas peço asilo. Quero o aconchego dos teus afagos, olhos, sorriso e sofá. Quero tuas mãos em meus cabelos. Quero alguém com quem possa compartilhar silêncios. Não escuto mais, e quero também parar de falar sozinha.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Samskeyti

Apego

Queria me apegar
Algo, alguém, coisa distinta
Que não seja finda, finita

Não me distraias somente
Com esse sorriso torto
Olhares do escambo demente

Te envolvia com toda força
Em mim colidias, meio morto
E absorta em pensamentos futuros
Nomeei todos nossos nascituros

Apertava o teu pescoço, por derradeiro
Enquanto eu queimava por dentro
Esquivou-se ligeiro

Tornei-me azia e indigestão
Teus gestos e palavras pelas metades
Entaladas em meu estô-âmago
E, pronto, queimação.

E guardo-me na promessa do vindouro
Pois não tenho pressa, o que queima é só desejo
Em mim perdura o afeto insuperável
De quando queimou seu olhar no meu,
[E nossos dedos se entrelaçaram certeiros]
Marca-amor indelével.

sábado, 5 de janeiro de 2013

Chega mais

Chega mais perto, olha diretamente nos meus olhos, ignora todas essas mudanças. Ignora esse meu cabelo ruivo, releva o cheiro de cigarro, o sorriso amarelo, o suor de outros homens sob a minha pele. Ainda sou a mesma, dos olhos pueris que brilham por ti. Vontade não falta, mas medo me sobra. Quero continuar gostando de ti, quero que continues gostando de quem quer que imaginas que eu seja. Não nos destruamos, meu amor. O tempo é curto, escorregadio e traiçoeiro, de modo que não podemos mais nos reconstruir. Quero continuar gostando de ti, ou chega perto a ponto de sua pupila mirar apenas a minha pupila, ou te afasta de verdade. Até que não me reconheças, que não te machuques quando eu estiver com outro, quando eu estiver outra, de cabelos louros, embriagada ao ponto de não mais conseguir me equilibrar. Perdi o ponto de equilíbrio, que ficava em ti. Chega mais perto de mim, ignorando meu lirismo pobre. Mas não te esqueças de partir, para que eu não me esqueça os porquês de gostar de ti. Para que eu me entedie com outras pessoas. Que tu fiques apenas com o melhor de mim, e eu com tuas melhores partes.