terça-feira, 3 de novembro de 2015

Insoníaca

Nor was I hungry; so I found
That hunger was a way
Of persons outside windows,
The entering takes away.
Emily Dickinson 


Pensando três, quatro, cinco vezes antes de falar pra alguém alguma coisa. Tentando engolir no processo. Não é possível que ninguém entenda. Somos todos feitos da mesma matéria, da mesma mediocridade cotidiana. E da mesma mesquinhez. Não é que eles não entendam, é só que não se importam. Ou se importam, mas não querem sentir. Querem que você sorria, deixe de lado. Volte a ser feliz, vamos lá, só sorria, daqui a pouco você consegue acreditar que é de verdade. Preciso do meu amigo imaginário de volta. Mas como, sequer me resta alguma imaginação. Passo o dia todo do lado do telefone. Cansei de revisitar memórias vazias. Espero por algo. Observo a luz intermitente no escuro. Parece um farol. Agora falta a maresia. Agora falta a brisa noturna. O reflexo incessante daquela luzinha pode ser uma estrela. O barulho dos carros pode ser as ondas do mar. Praia eterna dentro de mim. Não preciso deixar meu quarto. Não preciso fechar os olhos. Não precisas escutar. Impaciente, observo. Aguardo. Os ruídos mínimos - conforto noturno.