domingo, 16 de novembro de 2014

Epístola esquecida

Àquele que não mais me lê: todos os dias em que foste consumido pela ânsia de que para ti eu escrevesse, agora revertem-se em minha espera tímida. Pouco pretensiosa, envergonhada de si mesma. Assim como eu mesma me encontro. Tendo minhas investidas esparsas rejeitadas. Compreensivelmente. Sei que eu mesma já escrevi alertando-o para meu próprio perigo, meu desespero. Pedi para que se afastasse, e é como se me acatasse obedientemente. Exceto que não há mais parte alguma de ti que aja com expectativas com relação a mim. És indiferença, ou és cicatriz?
Agora escrevo para ti, mas não possuo palavras. Não como as tuas. Venceste no próprio ofício ao qual te apresentei. Desci do pedestal no qual nunca quis ser colocada e agora não sei mais onde me encontro. Meu apelo nem sequer tem confirmação de recebimento, tampouco recebe alguma resposta. É faísca parca. Um sorrigo amargo. Um café ralo que tomo junto com um cigarro de palha, do lado de fora da mesma biblioteca onde você costumava ficar. Mas você não volta. Compreendo, resignada.
Não possuo entendimento do que sinto, como também não compreendia o que se passava há mais de um ano. Iniciei esse flerte insensato e, emburrada, decidi: não quero mais brincar. Não sei rebuscar como sabes, como também não soube te amar. Persisto criança mimada que se recusa a aprender, e nem ao menos consigo te enganar. Se é que conheço bem meus artifícios, não sei em que medida me utilizei deles para te encantar. Se é que te quis, não quis que pudesses me enxergar. E continuo falando de mim incessantemente, como se ainda hoje não coubesse a ti qualquer poder de escolha.
Peço que desculpe ao menos esse texto fajuto, não consigo mais usar as palavras como antes. E sei que minhas tentativas de redenção são todas quebradas e voláteis, nuvens de éter no ar.

domingo, 28 de setembro de 2014

Tenho dias de horas púrpuras
anis
turvas.
Tenho dúvidas acerca da relatividade
do magnetismo
do atrito.
Também de mim e de ti,
mas é que a curva da parábola
hiperbólica, convergente
de nós dois
que gera atritomagnéticorelativo
- combustão –
dá pane em minhas sinapses nervosas,
por demasiado nervosas.
Irrequietas, irreflexivas, incongruentes.
Tenho silêncio e paz em mim,
e também o caos.
Mas quando tenho a ti, tenho tudo
tudo aquilo e mais um pouco
que beira ao Nada.
O que de mim te concerne,
e que penetras:
É superfície.
Tenho horas em universos alternativos,
em que sou singela,
apenas vazio escuro e oquidão.
Tenho segundos afetivos,
num microcosmo que é clarão.
É que se te difamo, pois!
só por ti tenho afeição.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Uma quadra sem métrica

Minha poesia
Se insere entre dois pólos
É beleza, é dor
Mas nada de alegria

Uma quadra ao gosto popular

"Tenho um relógio parado
Por onde sempre me guio.
O relógio é emprestado
E tem as horas a fio. "

Fernando Pessoa

Life seemed less ordinary. Like I was made for love. And you were me becoming the myself I was meant to be.

E se eu te disser que nosso pior inimigo é o tempo, e não a distância? O tempo que flui tão naturalmente quando estou contigo, mas que esvai-se sorrateiro. Como uma ampulheta de areia. Que se arrasta dolorosamente quando estamos afastados. O tempo incomensurável que ainda nos resta para o resto de nossas vidas. Eu sei que não é como se você quisesse casar comigo. É que eu quero casar com você, quer dizer, eu casaria com você agora... Porque você é o amor pra mim, "amor que foi feito pra dar, mas que ninguém deu pra você". Você é a personificação disso, não como uma projeção bizarra ou uma distorção que eu faço pra que você se adeque a mim, digo acertado. Você foi infinite joy e blind understanding, e agora é um choro que não pode ser contido. É aquela vez, a que eu me sinto mais triste do que nunca antes, e que eu acho que vou morrer de tristeza. E eu me levanto. Porque me parece um desperdício não espremer tudo de mim pra te aproveitar. E você acha que eu não tento? Mas você é o meu primeiro amor, deveria também ser o ultimo? E essa nossa dinâmica distorce as nossas expectativas, que poderiam ser leves como a brisa marítima que toca nossas faces agora, suave como o ruido das ondas do mar. Só que acaba sendo a big bad monster. Meu amor é essa praia perpétua, é esse sossego que brota do seu peito e de suas mãos. Mas o tempo é inenarrável, irreflexivo, desempedido - vai a sua própria maneira, com velocidade relativa: quando quero que ele pare, ele acelera. Nos caberia usar um relógio parado? Mas eu escolheria o pôr-do-sol; você, o nascer do dia. Não sei se por questão de gosto ou só pra me contrariar, tentando fazer com que eu te siga. Indefinidamente. Eu vou atrás, mas com passos curtos e relutantes. You always said we'd meet in the middle. Só que você não me escuta. Eu sei que eu falo baixinho, mas você não olha pra trás.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Meu coração está pequenininho, de tão apertado. Pulsa cansado, bate
calado. O esforço hercúleo não dissipa a angústia. Sim ou não, sim ou
não, sim ou não?, ecoa o ritmo moroso da agonia. Se eu pudesse
confirmar o não, ao menos essa luta findaria. Não há maço de cigarro
que apazigue essa tensão. Minhas mãos tremem, minha respiração dói.
Causa-me dor física. Sinto-te em minha corrente sanguínea,
entupindo-me as veias. Em minhas sinapses nervosas, corroendo meus
neurônios. De tanto pensar, de tanto sentir... Concluo: não consigo
amar, pois não consigo sofrer. Ou o problema é de outra ordem? Consigo
amar, consigo amar com a intensidade da troca de olhares ininterrupta,
com a abruptidão do toque, com a fluidez do pensamento. Mas não sou
capaz de grandes gestos. Então me ocorre... eu é que sou inamável.
Antes nunca tivesse sido amada, antes nunca tivessem professado amor
algum por mim. Mas eu não sei me fazer digna desse pedestal imposto,
quando me sei mundana e profusa. Não sei mudar por alguém e não mudar
por mim. Não sei permanecer, estatizar. Não sei...

E sinto frio. Frio em meus ossos, frio em minha alma. O anjo que me
toca traz com si uma foice, é o anjo da morte. Sua penugem não irradia
mais o reflexo dos raios de sol, enegrecendo-se frente ao meu abismo.
Contaminando-se com minhas lágrimas sujas de lama, minha culpa
condensada. O amor não (me) salva, tampouco (me) basta. O que eu
quero? Não é que já não sabemos mais, eu nunca soube... Nenhuma
resposta permanece frente ao golpe das novas perguntas, o nevoeiro das
dúvidas. Que paira sobre minha cabeça, que intoxica os meus pulmões. É
gélido e cortante. É fatal. Se eu não dependesse de outrem, se eu
apenas me entregasse ao abraço do anjo da escuridão. Se eu me
entregasse ao abismo. Tentei ser luz, tentei viver plenamente o verão.
Não posso. Cri que teu conforto aplacaria minha solidão. Não podes. Tu
crês em deuses distintos, e eu apenas vejo escuridão. Não há branco
que não se suje. E permaneço nesse tom cinzento relutante, enquanto
meu anjo espera minha resignação para que possa me tingir de negro.
Agora morre a muda em mim plantada, que antes floresceu na primavera.
Caducifólios, todos nós. Perenifólio você, que resiste à mudança das
estações. Somos espécies diferentes. Tentei ser verão, mas o frio me
toma para si. Minhas mãos geladas tremem. O anjo me estende a mão. Eu
peço por mais tempo, eu vos suplico, sou jovem, tempo é que não me
falta. Ele toca minha face com seus dedos finos. Não sinto mais frio,
e ele promete que não vou mais sentir. Eu o abraço, peço perdão. Já é
tempo, diz o anjo docemente. Ele me consola com seu abraço etéreo.
Abrace o inverno, logo mais serás verão novamente. Eu o seguro
firmemente, eu te suplico, já não aguento mais uma mudança de estação.
Ele aplaca meu aperto feroz, é a passagem inevitável dos anos, minha
querida, até que eu me utilize desta foice em ti. Meus pensamentos não
se materializam, mas ambos sabemos o que passei a idear. Sem ideias
tolas, ele diz em tom definitivo. Eu fito intensamente seus olhos de
gelo, passando meus dedos por seus cabelos cor de neve. Toma meu
beijo, anjo guerreiro, que junto contigo também vou guerrear. Sinto
seus lábios gentis, sua língua sutil, o gosto das suas lágrimas. Eu te
amo, ele diz firmemente, eu estarei aqui conquanto estiveres decidida
a vencer o inverno interminável em seu coração. Eu te amo não de te
imaginar, é de te sentir, de te metabolizar - continua, ainda com os
braços envoltos em mim. E eu sinto os raios de luz que dissipam o
gelo. Eu sei.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Oferta de último minuto, é take it or leave it. Você não é insubstituível, pode ser o primeiro de uma longa lista, ou a quinta opção. Não tem tu vai tu mesmo, e não é pra ser assim? Quem se valoriza não pode se dar ao luxo e valorizar aos outros, mermão. Aqui é a selva dos lobos, devore antes que tu seja devorado. Aprenda tua lição. “Mas dessa vez é diferente, dessa vez é especial”. A gente segue se enganado nesse longo ciclo de decepção, até que não se sinta mais o ferro frio do punhal. A primeira vez é que é tragédia, disse o Marx, a segunda é farsa. E a terceira, a quarta, a quinta. Só chorar que sempre adianta, cara, sempre adianta. Lágrimas deixam as pessoas desarmadas. E não é porque elas acreditam em você, é porque elas acreditam no poder delas mesmas sobre você. Pra que chutar alguém que já tá no chão? Eu me recuso, eu me recuso em reclusão. De agora em diante você não entra mais, não. O pior é que o teu próprio cinismo só te corrói. As bruxas seguem às soltas, em procissão, agourando o sofrimento mudo. Mas são teus próprios demônios que te consumirão.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

“Eu sinto sua falta”, é o sussurro mudo que não transpõe meus lábios finos. É o protesto interior que não supera a barreira de minha garganta rouca. Não saber onde ele está é liberdade. Não saber onde eu estou é a realidade. E o amor, como ficou? Não foi sufocado, liberou-se de garras afiadas para que pudesse prevalecer. Então ele é metafísico... Pior do que não se poder aprisionar, é não se poder compreender... Será que eu o inventei? Será que eu te inventei? Eu me reivento todos os dias para me acabar igual.

O apelo desvanece
O afeto prevalece.

“Vamos ser estupidamente felizes enquanto é tempo”, eu quero te dizer enquanto beijo suavemente sua têmpora, invadida por uma felicidade que só você pôde me apresentar. Mesmo que eu me agarre a ti com toda a força, mesmo que eu durma em cima de você com a cabeça no seu peito, não vamos nos fundir... Percebe o erro? Dois corpos não ocupam o mesmo lugar. Mas, mas o amor é meta-físico, e não Física. Ele não obedece, ele é teimoso, ele é? De ser, de presença? O que será que Heidegger pensava disso?

Você cala minhas indagações com um beijo preciso, de sutileza e ritmo como só você faz... Lembro-me de quando cantarolava pela casa envolta num cobertor “só tinha de ser com você, havia de ser com você”, o coração quase explodindo dentro do peito, porque não cabia mais, porque queria voar. É, ele é, é o amor. Mas era. Não é mais assim, é de outro jeito. É de lembrar da sua gentileza, de que você cuida de mim. Só que você diz que não quer mais filosofar, “vamos deixar a filosofia pra próxima vida que essa a gente vive”. Eu que desperdicei tanto tempo com filosofia alemã... Ser e Tempo a gente descobre, a gente explora, a gente não universaliza. Cada um faz por si só e daí a gente se encontra. “A gente se encontra”, eu insisto honestamente. Mas é que eu + você era nós, agora eu sou eu' e você é você', não sei o resultado da soma desses fatores... É que eu tenho essa ilusão de que eu tô sempre mudando. É que a gente tá sempre se conhecendo cada vez mais, sem conseguir conhecer tudo do outro.

“Não precisa ter medo”, e eu precisaria de um superlativo pra insistência, porque de tanto insistir, e de tanto tentar te convencer eu vi que eu estava tentando convencer a mim mesma. É que eu não sei, sabe? Eu sei que você sabe, que você acha que sabe, e está tão envolto em suas certezas e uma das suas certezas é o seu amor por mim... E daí como eu fico? Cruel. Eu fico sendo a pessoa mais cruel que eu já conheci em toda a minha vida, porque não importa se eu choro todo dia, se você chora todo dia, e se nós continuarmos chorando separadamente... Porque o que eu quero é te ver sorrir, mas eu queria poder sorrir também. É, era isso que eu queria. Dá pra acreditar? Mas aí eu venho pra você com essa proposta abstrata, de que não quero casar e que só quero sorrir. Você só diz “eu também não quero casar, quando eu disse que queria casar?”. Mas não é esse o ponto, não é - o ponto é. Um ponto final? Não, eu ponho reticências, são vários pontos, afinal. Será que eu é que não sou clara? Desculpa, eu sei que você não quer mais filosofar... Eu não posso te dar só o que você quer, sabe?

“Só vamos ser estupidamente felizes, será que a gente ainda consegue?”.

O afeto prevalece, só um pouco cansado...

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Simple(r) girl

I hope you find this girl you're looking for. She's not in me. The girl that will love you less, but will give you more reassurance. The girl that will ask for white wine when you want to go out to grab a beer. The girl that will feel flattered to be owned by her male. That will be crazy to get you to marry her - oh what a great catch! The one that never argues, that only listens to you silently admiring how smart you are. And condescending how arrogant you can be. That will stick by her man. That will never be able to cry in front of you with such deep sadness, because she can't even begin to imagine how to feel as I feel everyday. The one that thinks love is putting someone's heart behind bars - just like you think it is. So you won't smother her with your jealousy. Because she will like it. I hope you feel good about being with her. That you feel enough safety. That you don't feel like you have to threaten her to be with you.

And me?

Oh well, I'll be here, still alone. Alone as I was before, during and after you. With the only real truth in my life: not that I have been loved by you, but that I was - and always will be - alone. Maybe because I'm too proud. Too full of myself. Or maybe it's just exactly what you think it is - that I can't control my pussy. That I want dozens of strangers to fuck me.

I hope you find that girl. But I doubt she will fuck half as good as I do. But that's sad, cause in the end fucking was all that mattered to you. Maybe I would have liked to make love... And it's possible that I never really knew what love is. When it seems like the love I feel is an alien. That it is inadequate. I read once that "love shouldn't ask"... I never understood that quite right. Aren't we supposed to ask our loved ones for what we want from them? I'm sure as hell that love shouldn't blackmail. Love should transcend. Should come and go in waves and make its message clear. But it isn't that way it works, right?

Well, I bet it will be quite easiear with that girl, quite simpler. And that it's possible that you will tell her you never felt that way with anyone else before. I hope so. I hope you will be happy inspite of me. Sorry I couldn't make you happy, I just didn't think I should destroy myself in the process.

"O amor não deve pedir - continuou - nem tampouco exigir. Há de ter a força de chegar em si mesmo à certeza e então passa a atrair em vez de ser atraído (...) Não quero ser uma dádiva, mas uma conquista" (Herman Hesse, "Demian", p.171)

terça-feira, 15 de abril de 2014

...that's the only one that seems to matter.

Yes, I can talk to you like that.
I am your baby.
You took me in when I was feeling cold and alone.
You sheltered and protected and fed me with your love.
And that's how I answer when you ask me something
I don't wanna say anything but "Because!"
For I need no reason to be here,
your heart is my home your eyes are my world.
I don't care about financial markets
John Maynard Keynes
Baillouts and eurocrisis
I care about other things (you you you)
hermeneutics, semiotics, poetry,
Lévi-Strauss.
And so I disagree just "Because!"


*I don't mean to say I don't care about stuff you study and I don't want to talk about it anymore, this was just poetic license. I just mean to sound cute, in some way. Maybe to provoke you and mess with you because you know I do that I don't know why*
-I can't say anything.
-Why?
-I am so in love with you, the only thing I can do for now is to stare at you in awe.

Amongst so many other things

Sometimes I get sad
Because you're not here.
Sometimes I get sad
Because you're too good for me,
and I'm afraid I'm not good enough
for you. And you don't get
my deep inherent unavoidable sadnesses.
Sometimes I wonder
if you'll ever get it.
Then I know you don't need to.
(I don't want you to)
Even if sometimes I'm sad -
mostly I'm not (not anymore),
because I am with you.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

fitter, happier (?)

Not fit, happier, still unproductive
Comfortable
Still drinking too much
No exercise at all
Would get better with my associate employee contemporaries (if I had a a job)
at ease
eating well (too much too well)

à Brasília

Quis escrever um romance
pra ter onde despejar os pedacinhos
do meu brokenheart.
E denunciar os maus tratos dessa gente mesquinha
que não ama e respeita
e só quer colecionar.

Mas um romance exige muito esforço,
pra ressuscitar gente que eu quero enterrar.

Então já que não há remédio,
convoco os poucos amigos que ainda me restam
para uma reunião no bar.

Amarga cerveja amargo cigarro
tão doces em meu paladar!
Que já provou de tantas línguas ferinas,
e so quer descansar.

E se me vierem com mais abuso,
digo que hoje não dá.
Em meu suave Recanto só chega
quem for me afagar.

Ó Deusa, um churrasquinho completo
pra acalmar este estômago inquieto
ruminante de amargura.

Que o álcool expurgue o que está indigesto!
Sejamos amigos eternos,
porquanto conseguimos nos enganar.
Ocultando diversos amantes secretos
que acabamos por partilhar.

E a farsa fina segue sua trama,
pois que ninguém há de se responsabilizar!
"Somos todos adultos, minha cara,
então pare de choramingar.

No palco solitário de tua tragédia,
não tens com quem contracenar.
Ao fim do dia, lembro-te: és brasiliense.
Dê-nos um sorriso amarelo,
e se junte à essa mesa de bar!"

domingo, 30 de março de 2014

Calmaria

Já me abstive de escrever-te um poema, amor. Por quanto tempo mais conseguirei refrear minhas emoções? Agora que estás em meus braços, repouso tranquila flutuando rente ao turbilhão de (...)

A ventura de amanhecer e de amar, somente ao teu lado. Tu dizes que foi esse meu sorriso que te capturou. Esse sorriso, que só existe para ti, por ti. Não há dúvida.

sábado, 22 de março de 2014

O finge dor
Inventor da própria esfinge
O cria dor
questionador do criador absoluto
O explora dor
do próprio mundo e de mundos além
O louco que brada os mais diversos
lugares-comuns
E se ilude de que é
possui dor
de revelações extemporâneas.
Ah, o poeta messiânico
escolhido incontestável
que não pode escapar ao seu destino
de chorar dor, ferida e amor
infinitos e infindos.
Pobre coitado bebê chorão inconsolável
o poeta amaldiçoado a sofrer eternamente.
Pois que não consegue escapar da poesia,
cria dor e poesia
nascida de parto natural,
da gestação desenvolvia no estômago
fecundado pelo que não pode ser digerido
- e que fica entalado.
E gera úlceras,
feridas sanguinolentas e ácidas.
A poesia é a própria dor
insuperável.
Que só pode ser combatida em perspectiva,
aumentada,
diminuida,
inventada.
I'm torn
I'm two different continents
Shaken up
Placed in opposite hemispheres
North and South
Magnectic poles
- that will never mix,
but cannot exist separately.
I was cursed
even before I was born
when I was still useless matter
spirit, energy
whatever you choose to believe in.
I believe nothing
I have no God
or gods
or priests,
but still God insisted
to believe in me.
And the devil won't leave me
Alone:
that's the only real thing that I
AM, though.
Solitude
is (not) what I chose to believe in.
It's what I was made of
Darkness.
I wasn't born in the dark
I was brought to light
raised in love
within and
amidst and
inspite of it.
Because love hasn't brought me
anything but desperation.
Endless need, thrist, hunger
and fire.
That only seek to consume me.
Because of this unsurmountable pain,
I will either eat you all alive
to defend myself,
or you'll leave me to the crowes.
My bleeding open wounds,
my meaningless limbs,
that love and God and the devil
and light and darkness
and north and south
and my dirty latin-american blood
ripped apart.
But they can still crawl,
trying to fix myself together
and be wholesome.
Because I refuse to believe
that I can't escape this curse,
this only unconstestable truth.
That I am
Loneliness
(Ain't I?)

domingo, 9 de março de 2014

Revisitando Pandora

08/2013

Sempre fui menina muito admirada com o fantástico. Qualquer universo que não fosse o que estava imediatamente à frente de meus olhos me era maravilhoso e interessante. Talvez porque não conseguisse fazer das crianças que corriam à minha frente amigos, sempre velozes à minha frente. E eu sempre tive o passo tranquilo, até meio lesado. Vagarosamente processando informações, isto é, quando era capaz de processá-las. Aquele mundo humano não me era inteligível. Então recorria às fabulas. Este meu prelúdio que alude a uma infância tímida e fantasiosa é demasiado comum. Não me acho indivíduo que se desenvolveu excepcional por conta dele. A verdade é que venho dizer-lhes que, com espanto e horror, percebi que compreenderia ainda melhor a mitologia e as fábulas quando conhecesse mais do mundo real – do mundo adulto. Vou me abster de teorizar profundamente acerca do discurso narrativo, para que me seja possível desenvolver uma narrativa própria. Formalistas russos, Barthes e Foucault serão deixados de lado. Se é que a literatura não referencia a vida, e na verdade apenas se autoreferencia, meu próprio conto desmoronaria internamente. A questão é que fui eu quem desabou.

(Enquanto andava vagarosa, acompanhava os passos da prudência de Prometeu, cautelosamente planejando o meu caminho. Tentando acompanhar o ritmo dos demais, acabei deixando-me levar por Epimeteu. Invejei todas as qualidades dadas aos animais por ele e me permiti ser tomada pelo instinto pela primeira vez em minha vida...)

Uma fábula que não fui capaz de compreender inteiramente quando criança foi a da caixa de Pandora. Talvez porque não concordasse com a represália à curiosidade, ou talvez porque não conseguisse entender muito bem como todos os males do mundo couberam em uma única caixinha. Ainda criança sabia muito bem que o mundo possuía males suficientes para cobrir toda a superfície terrestre. Obviamente, meu primeiro erro foi fruto de não ter experiência de vida suficiente para poder compreender que a ignorância, em alguns casos, é, de fato, bênção. O segundo erro, é claro, foi o de interpretar a caixa de Pandora como sendo, objetiva e fisicamente, uma caixa. Cresci adolescente e jovem adulta contrária à autopreservação, para perceber pouco depois que o enrijecimento de meu espírito, a mágoa e a amargura acumuladas por tantas verdades não eram de todo algo positivo. Sim, eu quis ser iludida por mais tempo. Quis que mentissem para mim. Sussurros gentis em meus ouvidos, desembocando de lábios dóceis e traiçoeiros. Quisera não saber de sua traição. Que a caixa não tivesse sido aberta, escancarada, arremessada contra mim: direto em meus olhos. Fora da caixa a verdade era como ácido corrosivo, dissolvendo todo o amor que já armazenara em meu peito: todo o amor que um dia não coube dentro de mim, que foi professado em longas conversas pesarosas, em coreografias nos dias chuvosos, na mão que adormeceu agarrando firmemente a minha e recusou-se a me deixar ir.

Traição. Essa é a única palavra que me vem à cabeça. Que os eventuais leitores ou leitoras desse conto enfadonho me perdoem. Essa é uma história comum. Venho mais uma vez fazer uma confissão no único lugar que me é reservado para tal, visto que não piso em uma Igreja desde pequena e não possuo dinheiro para o psicólogo. Além disso, meus amigos já se cansam de escutar meu mesmo lamento. Conto então com a compreensão de vocês, pois que fui traída e agora desejo compartilhar o que eu própria fui capaz de compreender com isso. Finalmente entendo o mito de Pandora. Minha inocência foi usurpada completamente pela verdade, cruel e impiedosa. E nem fui eu quem optou por abrir a caixa, então, pergunto aos deuses inclementes: mereci essa punição?

I love your laugh too.

Baby, I'm lost for words. With your sweet whispers in my ears, you blew away every inch of rationality I still had. Every inch of incredulity, of skepticism. We don't need it as long as we have each other. Take me here, however you like. Von hinten nach unten. Our bodies shall not be separated again. Let's get married today, let's make love 'til dawn - 'til we make children of our own.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Meu amor,

Peço desculpas se te chamo de amor precipitadamente. É que tenho alma de poeta e nosso tempo é curto. Me dou a liberdade de chamar-te assim em hipótese. No papel, em segredo, em saudade antecipada. Enquanto te aperto com braços e pernas e digo que não vou te deixar ir. É que me sinto humana como nunca antes.

Gracia

Minha amiga Karla me conheceu por apenas um dia, mas conheceu-me bem. Acho que porque percebemos o que tínhamos em comum: todas as más escolhas, a inquietude, os arrependimentos e a insegurança inevitável de quem se culpa por tudo de errado que ocorre em nossas vidas. Karla foi uma das conselheiras mais infalíveis que conheci em minha vida: em apenas poucas horas de conversa foi capaz de desferir os golpes mais fatais em algumas de minhas certezas. Era dotada de uma honestidade hoje em dia incomum até nas minhas amigas mais próximas. Talvez porque minhas amigas mais próximas não tenham tanta coragem de dizer a verdade na minha cara...

Decidi relatar a ela que certa feita, eu e uma amiga minha conhecemos um rapaz. Estivemos a conversar com ele por muito tempo, temas interessantes e bem humorados. O rapaz era interressante, muito simpático e engraçado. Não quero dizer com isso que era feio. Não era feio, não era gordo, não tinha mal cheiro. Contudo, não era dotado daquela beleza óbvia que sempre buscamos todos os dias por razão qualquer - ou sem razão alguma. Ah, a consciência de minha superficialidade nunca ajudou-me a superá-la! Mas enquanto tivermos nossa sociedade para culpar por isso, teremos a consciência limpa. Eu disse a Karla, o rapaz interessou-me, mas não o suficiente naquele momento. Tive um interesse leve e não professado, o tipo de interesse desinteressado que tenho por todas as coisas. Sou preguiçosa, você vê. Digo preguiça porque é uma simplificação do medo, medo que sinto todos os dias - de tudo e de todos. Pequena e limitada, essa é a verdade sobre mim.

Decidi seguir o fluxo habitual de escolhas fáceis: deixei o rapaz a conversar com minha amiga e fui arranjar alguém menos simpático que não pudesse interessar-me por completo nem durante mil anos de conhecimento. É mais fácil, muito mais fácil. Mas não parei nem por um momento para pensar que o rapaz simpático pudesse se interessar por minha amiga. Aí que veio o tapa na minha cara em forma de gargalhada:

-Mas como você é egocêntrica! Não acredito no que acabou de me contar, ainda mais com essa visão das coisas!

Karla tinha essa risada cheia e sonora, do tipo capaz de preencher um aposento de alegria. Eu sorri com o canto do lábio, um pouco culpada. Sabia dessa verdade, mas não era capaz de aceitá-la.

-Não é? Achar que isso tudo é sobre mim... Que eles estão agora felizes porque eu nobremente me retirei de cena! Sou mesmo ridícula, e não me canso ser assim! - então rimos juntas. O comentário foi irônico e de certa forma amargo, mas não sentia a profunda tristeza que deveria sentir com tão trágica história. Expliquei a ela o porquê: - Vou continuar sendo egocêntrica, já que você já o sabe. Creio que também haja um pouco de identificação entre nós, então você poderá entender. A felicidade dos dois não me atinge. Será que você vai dizer que estou em negação? Obviamente, eu gostaria de ter uma felicidade semelhante para mim, algum dia. Mas seria eu capaz de lidar com tamanha perfeição? A meus olhos, são ambos completamente perfeitos - tanto separadamente quanto juntos. Amo-os tanto, que não acho que seja capaz de invejá-los. Não de uma forma azeda, corrosiva. Não consigo me ver como um par complementar a nenhum dos dois. Sei que me causará grande sofrimento quando os dois tiverem que se separar... E espero poder ajudá-los de alguma forma. Não sei explicar. Mas grande parte desse pensamento é impulsionado por meu próprio egocentrismo, e pela minha auto-depreciação. Vê bem, eu não acho que conseguiria aguentar tamanha felicidade. Porque será que me conformo à solidão com esse argumento tão pobre?

Karla não estava mais com um semblante tão espirituoso. Deu um meio sorriso cabisbaixo e um demorado gole em sua cerveja. Acho que ela se conformaria à felicidade facilmente, se assim o fosse possível. Era uma romântica incurável. Eu sabia também que eu mesma não era tão grande engima: tudo se traduzia em meu egoísmo infantil. Acreditava ser capaz de heróica abnegação, talvez proveniente de uma culpa imensurável que fora gerada pela minha educação católica. Mas era também uma romântica, e esse era meu mistério e maior segredo.

Partimos para outras anedotas. Pobre Karla, estava com um coração partido. Daqueles que ainda está vedado e imutável: sua afeição permanecia intacta, mas havia sido abandonada e não entendia o porquê. Ah, com essas coisas a gente nunca sabe direito o porquê..., eu diria suspirando. Se é uma falta de querer, se é uma falta de gostar, se a distância da Alemanha à Espanha é realmente tão imbatível... Da Alemanha ao Brasil era ainda maior, e eu conhecia gente que a tinha vencido. Seria um querer maior, gostar maior... um amar?

Karla se deu por vencida, com seus supercílios limpou aquela tristeza residual em seus grandes olhos azuis, levou mais um gole de cerveja aos lábios e sorriu:

-Eu já desisti de entender os homens. - concluiu de maneira simplista.

Eu sorri e tomei sua mão na minha. Mais uma querida amiga, dentre tantas, que pensava que era culpa dos homens e uma diferença invencível entre gêneros. Só sentia compaixão por ela. Meu superego superfeminista intersubjetivo obviamente não poderia tomar partido nesse argumento.

-Antes fosse esse o problema, Karla. Eu gostaria mesmo, antes de tudo, era de entender a mim mesma.

(Se é uma falta de querer, uma falta de gostar, uma incapacidade de amar).

Mas eu tinha essa vontade absurda de falar com ele. Agora que já não tínhamos mais tempo. Agora que eu ia partir no dia seguinte. Sim, no limite as coisas ficam mais intensas. Não queria ser escrava do desespero humano. Se pelo menos eu fosse uma pessoa espiritual, se eu pudesse depositar toda essa energia em alguma crença... Mas eu tinha em mim o fogo do diabo.

-Não sei te aconselhar mais do que isso. - disse ela, preocupada - Diria para falar com ele, porque sou uma romântica. Acho que temos que dar tudo de nós.

Hm, sim, eu devia falar com ele. Ir embora com aquilo entalado na garganta não fazia sentido. Mas eu sabia o que ele diria, sabia que estava trabalhando demais, que sempre trabalhava tanto e que não tinha tempo sequer pra descansar. Não me deixava irritada o fato de que ele não tinha tempo pra mim. Nosso possível amor fora abortado desde o princípio. Decidimos contar com o acaso, e poderia ser que ao final da gestação fosse um natimorto. Para nós a vida era uma grande série de apostas, cadeias de encontros e desencontros. A distância era demais, ainda mais quando não sabíamos o que sentíamos. Eu, contudo, sentia a possibilidade. E isso era o que mais me deixava inquieta. Havia uma possibilidade, de que daquele homem eu realmente gostasse, de que com ele eu pudesse acalmar a confusão que sempre fora minha essência.

Havia uma possibilidade no impossível.

E eu o admirava mais do que a qualquer outro, porque era um adulto. Porque nunca havia me relacionado com um adulto antes, só com moleques. Com moleques de quase trinta anos. Mas como propor tamanho absurdo a um adulto? Como poderia implorar para que ele largasse suas obrigações por causa de um capricho fútil? Deveria eu também ser adulta, para que ele me admirasse também.

-Por isso nós não vamos acontecer. - conclui, enfim. - Falta loucura em nós. Falta o desvario de quem não tem nada a perder, de quem está disposto a se atirar ao precipício. Mas nós não somos abismo, não queremos consumir um ao outro. Talvez por isso nosso afeto resista ao tempo e à distância. Não sei dizer ainda.

Karla insistia: Fale com ele. Você precisa saber.

Mas a vida havia me ensinado: não havia nada que era estritamente necessário saber. Não precisava saber que meus dois melhores amigos haviam, no passado, me traído. Preferia continuar com a cega ilusão de que nós três éramos felizes e intocáveis. Quando não era a ilusão preferível à realidade? Platônica, platônica. Nasci no berço de Platão. Demorei quase duas décadas para me libertar disso, e ainda não me libertara completamente. Só quando fodia, só quando enchia a cara. Só em transe ou embriagada me libertaria de mim mesma.

Não precisava saber porque eu já sabia. Sabia, porque havia sido imensamente difícil me despedir no dia anterior. Não queria me despedir novamente. Mas mandei uma mensagem mesmo assim. "Se vier a Lisboa, me avise". Essa mensagem continua não respondida.

Por falta de querer, de poder, de amar?

Não sabia e já não me importava. Agora ele e Karla seguiam suas vidas em Barcelona, e eu já estava de volta em Portugal. A distância poderia ser facilmente superada. Mas a distância era só um detalhe.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Noite polar

Nestes teus olhos árticos que se recusam a me fitar, eu ousaria habitar. Inóspito, silencioso. Discreto, vacilas, mas te calas antes de poder qualquer coisa me confessar. Eu sigo em minha verborragia. Ébria, derramo besteiras nessa mesa de jantar. Mas como é que não te importas? Sempre tão sério, sóbrio quando em tua terceira dose de whisky. Vejo que abres um pequeno sorriso, inclusive no olhar. Com a ponta dos dedos, acaricia o meu queixo brevemente. Olho-te de maneira cortante: Queres que eu me cale, por acaso? Tu sorris maior, queres continuar a me ouvir. Eu floresço frente a tal gesto. Professo qualquer estupidez que me venha à mente. Parece ser nosso código. Parece um perfeito entendimento – ainda que seja apenas de momento, por acaso. De repente, te vejo espontâneo. Espontâneo como jamais foste. Abraçamo-nos em silêncio. Perguntas onde quero ir. Não sei dizer, a lugar nenhum. Abracemo-nos em silêncio, nesse escuro escarlate, com a música de fundo fading out ao som de tua respiração. Como é que me acalmas deste tanto? Me acalenta neste imperdoável inverno, eu suplico silenciosamente, com desejo condensado na minha respiração entrecortada. Não quero um grande amor, quero um grande amigo. Quero que sufoques minha solidão com estes braços firmes que agora repousam sobre meus ombros. Tão só quando comecei a partilhar esse sono infindável contigo é que tornou-se ele tranquilo. Tuas mãos em meus cabelos e meu sorriso contra o travesseiro. Tua sugestão silenciosa, minha preguiça esparramada com naturalidade em teu colchão. Ecoam os sinos das Grandes Esperanças, minha música favorita como despertador – the grass was greener, I know you like to think so when you talk about your lovely Brazil -, ovos fritos e café. Teu péssimo e encantador sotaque de inglês. Tuas tentativas falhas de falar português. Não quero um grande amor, quero um lar. Abrigo no exílio. Acolhe-me em teus braços enquanto podemos, não fujas. Te peço, em silêncio, no escuro. Antes de tudo és meu amigo. Permaneça!, ah, enquanto podes. Permaneça para que pereças em meus braços, na madrugada, no amanhecer. E me despertas. Para uma vida que já estava esquecida. Desesperançada. Para que possa encontrar confiança novamente em teus braços: renascida. Plácida. Imensamente agradecida. Em calor que tanto me faz falta. Retido em meus seios, nas pontas de meus dedos gélidos, na casca de meus lábios secos. E que palpita em meu coração. No que também opina o teu coração, frente ao estetoscópio de meu ouvido repousado no teu peito.

Schmetterling

Por falta de palavras,
não te escrevo um poema.
Suspiro, beijo teus lábios,
repouso em teus ombros.

Paro e penso

Banal,
poderia ser qualquer uma
suspirando
beijando teus lábios
e repousando em teus ombros
quaisqueres suspiros,
lábios e ombros.

Mas é que os seus
Encaixam
Acolhem
Fazem sentido.

Não te dou belas palavras,
por agora.
Mas te dou um singelo sorriso,
que não posso evitar ao suspirar,
beijar teus lábios
e repousar em teus ombros.

Mas se insisto e te escrevo tal poema
Singelo e banal
E muito sincero
É que mereces um poema, ao menos
Por teus beijos que abrem meus sorrisos
Teus ombros que acolhem meus pensamentos pesados
Teus olhos que me arrancam suspiros.
"I like him", she thought as she held him very tightly. The metro was shaking briskly and she was trying to avoid falling down. With her face against his chest, she couldn't see his face. Peaceful, she closed her eyes. He could be anyone else in the world. She would possibly forget his face when they stopped seeing each other and lost touch. "Maybe it's not about him. Maybe I just like having something to hold onto". She looked up, he smiled. Very simply, automatically responding to her quick glance. He kissed her forhead softly and said nothing. What was he seeking in her?, she wondered. Did he feel as comfortable, peaceful and calm? She closed her eyes and hoped that he did. The train stopped at her station and he got out in order to walk her home. "I don't want to say goodbye", she realized suddenly - and it was the only certainty that she had. Yet the deadline for their ending seemed to be what held them together so closely. Could she put that into words? She didn't want to, she didn't want the separation to become real and the distance to become unsurmountable. She wanted to keep holding on.