terça-feira, 20 de outubro de 2015

Elegia

não é verdade
se te disserem
minha elegia ser
mais vaidade
do que homenagem

(Hilda Hilst, Balada do Festival)

Mil nomes te darei,
ousando cantá-los após a despedida
e tua a recusa em partir será
minha incorpórea redenção.

Reavivo a chama luzidia da vela
derretida com devaneio inférteis,
alimentada pela mórbida dúvida.
Se ousasse chamar teu nome
tua cabeça sequer se ergueria?
ou teus pés há muito descalços
reconhecem que meus lábios turvos
clamam apenas pela tua Fuga?

Se nisso que não há nome só há partidas,
sequer nomearei aqueles que não são,
buscando a ti no que nunca houve
ou se perdeu na ideação,
costurando o impronunciável
na promessa feita de nós. 

The Couriers

Sylvia Plath

The word of a snail on the plate of a leaf?
It is not mine. Do not accept it.

Acetic acid in a sealed tin?
Do not accept it. It is not genuine.

A ring of gold with the sun in it?
Lies. Lies and a grief.

Frost on a leaf, the immaculate
Cauldron, talking and crackling

All to itself on the top of each
Of nine black Alps.

A disturbance in mirrors,
The sea shattering its grey one -

Love, love, my season.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

do carilho

O nó
de nós
duro
oculto
amargo

como noz.
é preciso estar atento e forte
não temos tempo de temer a morte


meu amigo imaginário depois da primeira infância
mudou seu nome para Medo da Morte
e veio abrir meus olhos para o inestimável;
o passado depois da invenção dos choques terapêuticos
está mais vivo que o presente, esse pobre coitado.
e me contou que ele passou os últimos cinco meses
- isso sem que eu me desse conta dos sinais -
numa cama de hospital imobilizado por sedativos.
Medo me alertou para a necessidade de libertá-lo
e no Hoje engendraríamos um plano:
pois é preciso proteger o presente do passado,
ele disse, antes que ele o encontre paralisado,
ele insiste, antes que ele o condense em promessas,
antes de devorá-lo por inteiro.
Tentei pensar em alguma estratégia para invadir o sanatório,
enquanto olhava nervosamente para o relógio.
Mas porque o futuro está sempre atrasado?