Gosto de pensar na vida como sendo uma história. Um livro de contos, para os momentos marcantes, talvez um romance, caso após os 40 queira tecer uma linearidade entre os fatos vividos, caso queira idealizar minha infância, identificar os sintomas das doenças degenerativas. Tudo bem, ainda sou muito nova para um final feliz, que provavelmente só iria me entupir as veias de felicidade natural até que eu implodisse em tédio. Não penso que o "nós" esteja fadado à morrer, mesmo que eu e você pereçamos um pouco mais a cada dia que passa, golpeados por decepções, frustrados com as imperfeições. Penso em nós dois em um romance épico: reencontramo-nos na década de 60 em Londres, anos 70 em Nova York, em 80 militamos juntos no Rio, convalescemos no desgosto, somos finalizados à tiro de bala. Renascemos no início dos anos 90, década tranquila para se vir ao mundo, tv a cabo, consoles, telefone móvel, internet discada. Voltamos a Brasília, mas nunca mais nos falamos. A vida é mais feita de desencontros que de encontros.
Mas não estou sozinha. Tenho Bernard, Susan, Neville, Rhoda, Jinny e Louis, por mais que não goste muito dos últimos três. É o preço que se paga pelo convívio, nem todos os amigos nós escolhemos, por mais que digam o contrário, algumas pessoas são forçadas a nós. Temos mais a aprender na desavença que na harmonia, é o que dizem. Eles não conseguem me ouvir, mas consigo sentí-los. Sei que lá em 1930 eles me sentiram também, porque suas palavras percorreram o mapa da minha alma.
Algo me ocorre enquanto estou no meio do lago. Depois quando estou no banho. Parece que a água clareia os pensamentos. Da próxima vez, levarei um bloco de notas impermeável para registrar minhas epifanias, caso contrário esquecer-me-ei de tudo aquilo que à tanto custo, depois de tanto bater a cabeça na parede, vem-me de forma tão nítida. Quero cristalizar essa paz, colocá-la em uma seringa e injetar suas doses em mim mesma ao longo dos dias. Mas a paz é idealizada, não existe mais - bem, ou existe apenas para aqueles que ainda têm fé. As crianças dos anos 90 não vêm com fé embutida, defeito de fábrica proveniente da produção em série.
‘A phrase. An imperfect phrase. And what are phrases? They have left me very little to lay on the table, beside Susan’s hand; to take from my pocket, with Neville’s credentials. I am not an authority on law, or medicine, or finance. I am wrapped round with phrases, like damp straw; I glow, phosphorescent. And each of you feels when I speak, “I am lit up. I am glowing.” The little boys used to feel “That’s a good one, that’s a good one”, as the phrases bubbled up from my lips under the elm trees in the playing-fields. They too bubbled up; they also escaped with my phrases. But I pine in solitude. Solitude is my undoing.
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