sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Hoje

Devia ter acordado ao menos 4 horas antes para poder fazer tudo o que me foi designado e também algumas coisas que me agradariam. A gente aprende a gostar do desagradável, talvez seja isso o que chamam de amadurecimento. Para ser capaz de acordar mais cedo, teria que ter conseguido dormir ao menos 2 horas antes. Teria que acreditar nos minhas finalidades. Mas nada era final, havia sempre o instante seguinte. Liguei a tevê no noticiário, mas não informavam nada que pudesse dar-me acalento. Sentia frio, segurava a caneca de chocolate com as duas mãos, sentindo o vapor subir por minha face e embaçar-me os óculos. Só queria saber de você. Queria projetar-me em outra vida, mas isso me era impossível: o sofá preto continuaria ali, o tapete empoeirado, os quadros abstratos em tons de marrom e azul que não deviam significar nada, fundamentalmente, mas pareciam espelhar minha angústia. Toda a gente era insossa, parecia que não tinham aprendido a sofrer. Não conseguia mais comunicar-me com eles, pois meu único canal recentemente era a miséria que cultivara, que se multiplicava, que fincava raízes. Toda a gente era insossa, e eu era uma coitada. Ela me liga porque quer compartilhar felicidade, eu só deixo o telefone vibrar incessantemente em minha mesa e ignoro. A felicidade tornara-se algo tão obsceno e esdrúxulo, não entendia como as pessoas conseguiam regozijar-se com algo tão efêmero e traiçoeiro.
Como arranjar uma arma? Munição, estou cheia delas, mas não tenho como atirar. Muitas coisas gostaria de dizer, mas não me é permitido, não passam pelo crivo do que é sensato. Fico engasgada, no meio do caminho. Não pareço impressionável, mas sou, justamente por esperar o nada. Quando ganho uma migalha, é como se fosse um quilate de diamante.

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