Estou em carne viva, meu coração bate, reparo, pois que sangro. Talvez não consiga poetizar como gostaria. Está tarde, não tenho rumo, estou sozinha. Dou voltas confusas pela cidade, não sei pra onde ir, não quero voltar para casa tão cedo, não obstante reluto em escolher uma direção - "a minha sensibilidade do novo é angustiante: tenho
calma só onde já tenho estado"*, encontro-me num estado intermediário da agorafobia e da claustrofobia. Mas ainda assim, anseio pelo novo. Entediei-me de mim mesma, encaro-me no espelho por alguns instantes com olhos opacos. Anseio e temo, nada espero, tão somente me escondo. É mais seguro, com minhas quatro paredes, meus dois cobertores, minhas meias de lã, meu chá de jasmim, meus livros empoeirados. Podia continuar com isso até o fim dos meus dias, repelindo a mudança, trancando-me dentro de mim. O único problema é que não gosto mais de mim. Eu que agora sou promessa que não foi cumprida, sou desperdício do intelecto, estou acima do peso desejado, sou alma intoxicada que transborda. Não tenho o que contar. Talvez esse seja meu maior problema, querer escrever sem ter exatamente o que escrever. Querer viver sem ter exatamente o que viver, sentir que não consigo continuar vivendo. Qual o propósito de uma vida longa? Plantar uma árvore, escrever um livro, ter um filho? Somos puro desmatamento, incêndio, bloqueio das ideias, superpopulação.
Mas tenho calma só onde tenho estado, só com quem já estive. Tenho pânico do novo, ao mesmo tempo em que também tenho tédio, sou tédio escorrendo pelas minhas narinas. Continuo divagando sem objetivo, incoerente e aborrecida. Amei-te, mas não me amavas. Procurei e não encontrei. Dirigi por horas a fio, atravessei madrugadas, não cheguei a lugar algum. Transcendi a fome, transcendi o sono, mas não supero a rejeição. Estou nua na frente de uma multidão - não é um sonho, é um estado de espírito -, continuo sozinha. O calor humano queima como o gelo polar.
Olá,
ResponderExcluiresse texto é de sua autoria? Diz tanto, tanto.
Gostaria de partilhar, mas com os devidos créditos.
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Grata!