segunda-feira, 30 de julho de 2012

Escrevo. Simplista. Minto.

Receio não conseguir libertar minha imaginação de seus grilhões porque têm peso excessivo meus sentimentos. Tenho ânsia de vomitá-los no papel assim que possível, não apenas para tentar compreendê-los, mas para fazer com que não tenham sido em vão. Minhas angústias são ignoradas, meu amor é sufocado, só um pouco de poesia e lirismo salvam-nos da total inutilidade, e do total esquecimento.
Tem dias que eu não consigo lembrar sequer do teor de qualquer um dos nossos diálogos. Sei de nossos interesses em comum, ainda consigo detectar sua risada no canto do lábio, suas sobrancelhas arqueadas, seu olhar de escárnio - seu olhar afetuoso, derretido e aquoso sobre o meu. Talvez nosso forte não fossem as conversas. Você se sentia bem, e eu me sentia bem, mas por motivos diferentes. Por pouco mais de 10 dias sentimos o mesmo, então descarrilhei-me de ti. Saí dos trilhos num lugar longínquo e achei que não tinha mais volta. Respirando fundo e, depois, em compassos exatos, peguei os remos com minhas próprias mãos, com os braços peguei as mãos, com o tronco os apoiei, e voltei ao porto apenas com minha força física, minha unicidade sendo tão somente corporal. Impeli-me para longe, mas não consegui distanciar-me efetivamente.
-Queria te dizer como acho Platão um tolo. - eu diria enfim. Você não entenderia. Eu ficaria acanhada de, em minha ignorância, expor tal opinião. Não desenvolveria o assunto.
Você pegaria seu violão, dedilhando-o atenciosamente pelos próximos minutos, tocando minhas músicas favoritas sem olhar-me, nem sequer de relance. Eu faria pouco de ti, abriria um livro e leria um mesmo parágrafo por pelo menos seis vezes, não absorvendo nada do conteúdo. Na verdade estava abismada, sua presença não só ressonava em cada uma das 4 paredes, seus comprimentos de onda sintonizavam até meu esôfago. Por muito mais que 10 dias você, e depois tão somente a memória de ti, me serviram como alimento. Até hoje não sei se foi você quem parou de me saciar o estômago, ou se fui eu quem fiz greve de fome. Fui infantil. Da greve de fome avancei para uma ânsia ainda mais insana, quis me atear em fogo. Inspirei náusea, virei indigestão.
Não creio que tenhamos sido tão únicos. Inúmeras vezes agarrei-me a você e não quis soltar; era quando me sentia mais banal e simples, mas foi quando descobri a completude. Era o fogo brando e acalentador, não esse calor dos infernos que me consome e ensandece. Todas as vezes que tento escrever sobre mim e só sai você, sinto-me banal e ridícula. Sinto-me incompleta, uma vez que não posso mais abraçá-lo e pedir para que fique. Não quero que volte. Tranquilamente, descanso em paz.
Escrevi 10 letras de música, e não foi uma para cada dia. Não tenho melodia para nenhuma delas e, ainda por cima, sou pura disritmia. Escrevi uma letra há algum tempo atrás, quando ainda não te conhecia, mas creio que foi para você. Sonhei um único sonho bom na vida, etéreo, rosado e leve; encontrei-o em você. Não tenho mais palavras. Reduzo frases. Tudo isso significa nada. E ao nada atiro tudo. Escrevo. Simplista. Minto.
Sim, acho Platão um tolo. Contudo, seria a maior das tolas se não reconhecesse que dele sou filha, descendente quase que direta, herdeira de um legado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário