Pra que contar, se não vão entender?
A cada dia que passa penso que não há o que se entender. O nó está desfeito, eu o desatei com minhas próprias mãos, ao mesmo tempo em que o afrouxava, o aperto em meu peito se intensificava. Mas não posso clamar de volta o que já não é mais meu. Ah, e nunca senti que fosse. Talvez porque não tenho sentimento de posse, não sou de demarcar o território. Só que seu olhar no meu era pra mim.
Quero-te de volta tão somente à medida em que és apenas uma figura que se distancia rumo ao horizonte infindo, impalpável. Quando te aproximas, vens para me envolver-me num abraço frouxo, numa aura fosca. Não sinto o impasse do irresoluto: não quis tentar quando ainda me era possível, e agora já és intransponível - e eu não deixo meu orgulho, só posso me agarrar a ele nessa solidão perpétua. Estamos cansados. És mais ideia fixa que paixão.
Há o que contar, não estará esgotada essa história? Se pudesse, escreveria o recomeço, mas temo não ter os artifícios literários necessários para tal. Temo, acima de tudo. Contento-me com o pouco que já conquistei, afastamos a estranheza e agora sorrimos. Mas seu abraço é frouxo. Mal me tocas e num repente já soltaste. Estou intangível? Já soltou. Ainda estou apegada.
Mas toda volta é fracasso, admitir os erros, ter de confessar crimes não cometidos com o intuito de alcançar alguém que teme-se não estar mais lá, sentido-se da mesma maneira "ainda". Porque sendo sentimentos tão frugais, haviam de permanecer?, virando substrato, subsídio. Vais embora sem despedida - porque permanece essa sensação de que fui eu que te deixei escapar? Talvez também peque por abraços frouxos, e minha testa não mais se encaixe perfeitamente na curva de seu pescoço. A muito custo aprendi que não devia ter dito "Estou cansada, vou-me embora" e sim "Estou cansada, leve-me para casa".
Não vou contar, nem para ti. Guardo junto a mim esse sentimento disforme e indefinido, essa brisa refrescante que foi poder sorrir e ter meu sorriso retribuído novamente.
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