sábado, 15 de setembro de 2012

Acordei de um sono tão leve, parece-me que não cheguei a adormecer em primeiro lugar. Remanesço, permito-me recordar; adormeci pois estive em outro lugar. Uma tribo de bestas balbuciantes, o sombrio fondu au noir, pitch-black [o desconhecimento de sua própria língua], ermo escuro inexplicável - irrefutável - de suas pupilas. Um contraste, o fúnebre e intransponível da janela pra tua alma nadando no mais límpido e aquoso verde. Uma tranquilidade fingida, uma placidez de continuidade. Porque pensas que me vês?, tuas pupilas estão fechadas, não entra luz.

Não abri os olhos porque a claridade havia de me cegar, eu que cultuei o escuro por tantos meses. Não estava pronta para a mudança, mas estive sendo impelida a ela, não havia como negá-la. Contorci-me incessantemente durante o quase sono, já estava dolorida e transpirava exaustivamente. As bestas da tribo dançavam, eu bem sentia o som das batucadas, mas permaneci imóvel. Onde estava aquela fascinação que tornou-se arrepio na espinha? No meu caso fascínio era sempre interesse breve e supérfluo, nada me prende. Nada me prende, só o meu sofrimento.

Os barulhos de britadeira e o calor abafado do quarto com janela e porta fechadas começava a sobrepor os tambores tribais e o crepitar da fogueira. Acordo de meu devaneio com uma certeza.

As sombras dançam ao meu redor - se são distinguíveis é porque há luz.

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