sexta-feira, 29 de junho de 2012

Ela não está mais lá

Não olhe pra trás. Não importa se ainda ela estará na plataforma da estação ou se já partiu. Você que decidiu isso, você fez o que quis. Entrou no trem e desejou partir para qualquer lugar indefinido, desde que longínquo, desde que ela não estivesse mais lá. Não olhe pra trás, o problema não é se ela ainda está na plataforma, e sim que você quer que ela ainda esteja. Você espera que ela desça todas as escadas, esteja atrás de todas as portas. E se ela estivesse? Nada mudaria. Se você quis partir, você teve um motivo. Você não suportou, ela asfixiava seu cérebro, envenenava suas veias, você acordou daquela comatose, aquela dormência latente. Voltar atrás não é uma opção, então é bom que você não mais a projete naquela plataforma, por mais que você queira mais do que a vida, com um desejo mais desesperado do que fora sua decisão de partir, que ela não saia do lugar. Ela provavelmente pegou outro trem. Vocês seguirão rumos distintos agora. A distância é desoladora, mas lembre-se sempre do alívio que lhe trouxe, alívio que ela não pudera - porra, não quisera - fornecer. Você tem de amputá-la, feche os olhos e arranque-a fora, e a dor passou, foi só um susto. Não espere que ela venha lamber suas feridas. Por mais que estejam em carne viva, perceba, isso é porque você ainda está vivo.

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