terça-feira, 12 de maio de 2015

Só.
Tentei escrever o dia todo e a única palavra que me ocorre é que estou só. Povoo os inúmeros espaços vazios dessa cidade com todos aqueles que me deixaram – ou que eu deixei, nunca se sabe. Sou um fantasma de mim mesma. Me comprimo num balanço quebrado e seu rangido ressona em meus pulmões preenchidos por ar frio.
“Parquinho infantil, proibida a entrada de adultos”, diz a placa.
Tento me encolher pra dentro de mim, pequenina. Eu, que antes não me cabia, agora nem sequer me preencho. Vejo os últimos raios de luz cederem espaço para a noite.
E só. Nada me comove, indiferente (embora dolorido) é meu estômago frente ao pedaço de pão. Os desconhecidos que me encaram não me enojam tampouco me apavoram. Não procuro uma resposta – minhas perguntas cessaram.
Os ínfimos feixes alaranjados tingem o céu azul de violeta.
Me lembro de você.
Habituada à minha solidão como a única certeza, exaspero-me frente à essa nova expectativa. Vislumbro as esferas as quais você mencionou. Criadas por mim. Pelo meu silêncio. Tenho ânsia de capturar esse tom violeta em ti. Olho ao longe mais uma vez e ele já se dissolveu no azul. Lá se foi nosso éden da compreensão. Mas lá ainda repousam suas mãos nas minhas. Meus dedos pálidos em seus cabelos pretos. Seus dedos longos convulsivos, esquizofrenicamente manuseando mundos. Tecendo tramas que não me dizem respeito. Envoltos por anéis incógnitos para mim, que desvelam o nó em meio ao meu nós ideado. Esferas invisíveis de medo.
Recolho meus objetos e sentimentos e sigo só. O frio outonal transportado pelo vento úmido faz com que se recolham também as pessoas que passearam ao meu redor.
Quer dizer então que eu sou a primavera?

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