quarta-feira, 13 de maio de 2015

ποίησις

Meus amigos me chamaram para dançar.
Que convite absurdo!
Mal sabem que me desfaço no descompasso dos semi-abraços,
me retorcendo no cadafalso,
abjeto, inconfesso, ilusório,
que são as palavras que se propagam cortando o vento,
úmido, abafado, desritmado.
Minhas palavras que não valem nada,
sem seu valor simbólico, teórico, metafórico.
Não mudam realidades, não habitam tuas noites de insônia.

Minhas amigas me dizem para resistir.
Que infâmia!
Insistir nesse mundo de absurdos,
perjúrios abjetos lamentos.
-Moça, não quero interromper, mas me dá um trocado?
Palavras não mudam realidades,
perpetuam o purgatório, pusilânime
estado de espírito civil. Antissocial, com ideais anárquicos
hipócritas, hipocondríacos, ingênuos.
-Moça, eu tenho AIDS.
A poesia é a mais covarde fuga.
com métrica aristocrática, incompreensão socrática,
pretensão pluripatética.
Principalmente quando fala do escarro,
do esterco, dos porcos, dos corvos e dos medos.
-Moça, tá faltando o leite pras crianças.
EU sou o deus hermético,
você é súplica obtusa.

Resistência infame, herética, produzindo a bile fétida,
que escorre no meu bule de porcelana e chá de lótus.
Basta de palavras!
Esta é a noite para cingir todos os desencontros,
toda rima, métrica, poiesis
ao compasso de minha dança cadavérica.

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