domingo, 21 de outubro de 2012

Oquidão

Escreve!, tu dize. O que tenho dizer do obsceno obscenamente calculado e dissimulado? Nada. Uma coisa leva a outra, e o ato supremo - reduzido à insignificância - simplesmente acontece como uma sucessão de atos impensados. Porque pensar me pesa além do sustentável. O que resta a fazer quando se acaba a voz?, pergunta meu algoz e libertador. Tremem minhas pernas, oscilo entre o pânico e o êxtase. Extingue-se também o pensamento. Tens olhos verdes musgo e pele morena do pântano. És pura sujeira, e em ti me desdobro, em ti e contigo afundo. És também redutível - nada. Que dizes? Não ouço e nem me importa. Não me ouves, sou a rouquidão provocada pela arrebatadora certeza da inutilidade das palavras.

Hoje não escrevo.

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