Perdoe-me os rodeios, é que tenho mania de poeta. Não é uma pretensão, pois que não finjo, apenas aspiro a algo que já fixei além da linha do imaginável e do alcançável. Nunca serei, não há momento em que já fui, fico presa no eterno devir. Venho falar-te novamente acerca da incomunicabilidade. Não a minha, jamais a minha. Falo de ti, de tua falta, e como estás em falta (não seria o mesmo?). Mania de poeta é justamente inventar onde não há matéria, plausibilidade, coerência, argumentos para uma discussão. O meu silêncio é justificado, frustro-me pois transformo em poesia. Ou tento. Que me basta saber que não vieste pois teu ônibus não passou, ou porque reencontraste um velho amor numa esquina? Sei que não chegaste, não chegas jamais, e isso consome e corrói e abre inúmeros buracos. Sinto aquela doce promessa na ponta de tua língua, aquela que não professou por meio de palavras.
Sinto ainda a permanência da pressão que me imprimiram seus dedos sob a minha pele.
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