domingo, 14 de outubro de 2012

Fantasia

Ainda insisto em crer que é você que não quer me deixar ir embora. É o seu silêncio reticente e seus olhares de soslaio, são as inúmeras possibilidades que se encontram no intervalo entre sua aparição abrupta e sua despedida esquiva. Chega mais perto de mim, eu anseio e temo. Não consigo lhe ser indiferente, por mais que me enfureça, sufoco você em sonho e em pensamento, esfaqueio com o ferro fundo, esquartejo. Mas em mim sangra você.

Sou um meio-termo que não me beneficia em nada, sou nem poeta, nem ator. Talvez um pouco dos dois, quando ignoro sua presença no canto da sala enquanto danço convulsivamente. Quero sacudir essas ideias que não sei traduzir, quero que vão para bem longe daqui. Que saiam num jorro de sangue pela boca e pelo nariz. Que não sejam ainda essa paixão que perdura, que resiste ensandecida. Que não tem motivo. Que não tem alimento. Que não tem estrelas, nem borboletas. Só a espera, e espero só, e sem motivo. Porque tenho sempre às mãos esse estetoscópio falso, a luneta de lentes biconvexas, sempre ávida por escutar os teus sinais. Assim forjo minha fantasia, agitando as asas sem te envolver, pois tenho consciência da obscenidade dos meus desejos. Sufoco-te em sonhos, e sufoco a mim mesma nessa realidade imaginada. Sufoco, pois seu ir-e-vir ( ah! que inconstância do devir) me asfixia.


http://www.youtube.com/watch?v=SZ26_buhHfI

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