"Entrei no barbeiro no modo do costume, com o prazer
de me ser fácil entrar sem constrangimento nas casas conhecidas.
A minha sensibilidade do novo é angustiante: tenho
calma só onde já tenho estado."
"Tenho amor a isto, talvez porque
não tenha mais nada que amar — ou talvez, também, porque
nada valha o amor de uma alma, e, se temos por sentimento
que o dar, tanto vale dá-lo ao pequeno aspecto do meu tinteiro
como à grande indiferença das estrelas."
"Irrita-me a felicidade de todos estes homens que não sabem
que são infelizes. A sua vida humana é cheia de tudo
quanto constituiria uma série de angústias para uma sensibilidade
verdadeira. Mas, como a sua verdadeira vida é vegetativa,
o que sofrem passa por eles sem lhes tocar na alma, e
vivem uma vida que se pode comparar somente a de um homem
com dor de dentes que houvesse recebido uma fortuna
— a fortuna autêntica de estar vivendo sem dar por isso, o
maior dom que os deuses concedem, porque é o dom de lhes
ser semelhante, superior como eles (ainda que de outro
modo) à alegria e à dor."
"Agir, eis a inteligência verdadeira. Serei o que quiser.
Mas tenho que querer o que for. O êxito está em ter êxito, e
não em ter condições de êxito. Condições de palácio tem
qualquer terra larga, mas onde estará o palácio se o não ficarem
ali ?"
Fernando Pessoa
Nenhum comentário:
Postar um comentário