Seriam mesmo as coisas mais tristes as mais bonitas? A felicidade já foi acusada de ser rasa, efêmera e passageira. Mas não estaria justamente aí a sua beleza inerente? Pobre réu indefesa: era acusada devido à incapacidade de seus promotores de injustiça, incapazes que eram de capturar aquela própria essência tênue que a caracterizava, de saboreá-la em seu próprio aspecto frágil e quebradiço - queriam agarrá-la com garras afiadas e, num intuito egoísta, aprisioná-la. E a felicidade, leve e esvoaçante feito borboleta, se não escapa-nos por entre os dedos enquanto nos atrapalhamos com tentativas frutradas de capturá-la, tem suas frágeis asas quebradas na brutalidade e na incompreensão.
-Você já reparou na asa de uma borboleta? - ele perguntou.
Ela não sabia muito bem onde ele queria chegar, então apenas assentiu com a cabeça. Era provável que sim, todo mundo já tinha visto uma asa de borboleta, mas ela não sabia ao certo se havia notado aquele detalhe ao qual ele fazia referência.
-Primeiro que as cores mais bonitas estão sempre dentro da asa, não do lado de fora. Então você tem que olhar para uma borboleta parada para realmente admirá-la. O problema é que elas estão sempre esvoaçantes, inquietas. Ao sinal de qualquer movimento, já voam para longe. Depois, tem o fato de que suas asas são muito frágeis. Dizem que se você tocar, há grandes chances que elas se despedacem... Ah! Sem contar que o tempo de vida delas é tão curto, e boa parte dele elas passam rastejando com o corpo murcho e as asas encolhidas...
Ela sorriu de uma maneira discreta e triste.
-Acho que eu entendi o que você quis dizer.
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