Há a
realidade e há o medo. A realidade do medo da folha de papel em branco me
encarando. O medo da realidade que pode ser revelada por ela. A realidade dos
escritos sem destinatário que ecoam medos em sua superfície. O que é escrito é
como a fotografia revelada. E se o filme tivesse sido queimado, mofado,
esquecido no fundo da sua gaveta de meias encardidas? Quisera poder esquecê-lo;
tudo que é ideado e prometido. Mas a mente insiste em firmar suas armadilhas. O
que eu sinto é real, mas o que escrevo é cópia dos grandes mestres. O sem-nome abarca o eu, o tu, o ele. O sem-nome é
tudo. O eu... que palavra-conceito desprezível. Que prisão. Quando sou eu, sou
densa. Quando tento olhar além de mim, me desmorono. “A língua transforma o
caos em cosmos”... que falácia de linguista. Nem quando ouso me expressar é
expelida a verdade. Mas há o medo da verdade. Ou o medo de que a verdade seja
inescrutável? A escuta não é contraparte necessária da fala e falamos sozinhos
indefinidamente. Havia olhos no escuro, ou pelo menos foi o que sonhei. Houve o
conforto ilusório da palavra. Palavra que é pássaro e admiramos noite adentro.
O pássaro também não tem nome. Ele tem asas e não as utiliza. Suas plumas
brancas estão sujas de terra nas pontas. Mas ele goza de aparente liberdade.
Liberdade – medo irreal. Palavra-pássaro. Promessa-prisão. Ele tem nome, mas você o esqueceu.
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