terça-feira, 23 de junho de 2015

verborragia interna é o timbre do capeta, ele disse

eu gosto de me machucar. abrir a tampa do fosso e mergulhar a cabeça, ficar até vomitar no vômito. me disseram que da lama que vem o lótus. do meu sangue talvez verta-se a resposta. se é o que busco. se me satisfaço com o que encontro. mastigo leniente as pétalas dessa dor. ferida canibal alimentando-se de casca. sorvendo pus como se seiva. onde estão as ataduras que você colocou? calma mãe, amanhã eu ligo pro médico. essa fraqueza não é só anemia, é claustrofobia, é paralisia cerebral, é masturbação excessiva. mãos atadas, faça-me parar. lobotomia? sim. o tratamento está à discrição do paciente. claro, depende do seu livre arbítrio. mas eu gosto de me machucar. tenho sede de lágrima, fome de chaga. pandora epiléptica na antessala da decepção. eu gosto de ver a vida esvaindo-se de mim, pra pedir por uma nova chance. jogar tudo fora porque é melhor pensar que o que tenho não é muito. dá pra conseguir tudo de novo, novo. muitos lados de muitos mundos. não é preciso correr para errar. não preciso que me protejam dos lobos. vicio-me nas cinzas daquela decepção. se quiseres, desfira quantos golpes desejar. penetra-me fundo e permanece, parasita vil. miro o precipício, incólume. a fatalidade não seduz a quem gosta de se machucar. o avesso da dor também dói e é prazer. é bom que não haja limites. há fluidez mecânica. em um sólido as tensões derivam de deformações elásticas sofridas sob ação de forças externas. sinto as criaturas que farejam o ar ao meu redor soprando seu bafo quente em meus eus passados transmutados. em um fluído, as tensões derivam do fluxo resultante da aplicação dessas forças externas. sinto quem disse achou pensou que amou transbordando lágrimas sobre meus destroços. a propriedade que um fluído tem de apresentar resistência às tensões cisalhantes é chamada viscosidade. se ao menos amassem e se ao menos soubessem como me despedaço sem hesitação. por isso diz-se que os sólidos são materiais elásticos e os fluídos materiais viscosos. quebro tanto que não quebro mais, acho. por isso gosto de me machucar, deixar o sangue quente acariciar-se pela língua lupina, o membro inerte gangrenar, o sentimento puro sujar-se e, enfim, putrefação fétida amputada. viscolástica. quanto mais sujo for esse poço mais leve, clara, lúcida será a flor,

por favor


pois tenho essa chaga comendo a razão


armas em riste,
porte de armadura
hipnose aromática,
nessa vertigem

eu me atiro
e não se finda
qual fígado que pro métis
perpetuamente dilacerado
na mira do olhar fumegante
do Outro-corvo

lava, pó, Nada - mecânica do descontínuo
indefinidamente escuta lasciva
das vozes aveludadas
vermelhas
tartáreas
preci
pita
m


ah, voluptuosa queda
na Garganta flamejante
de ambrosia,
catarro,
fel. 


eu gosto de me machucar.



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