segunda-feira, 15 de junho de 2015

estacionário


(dante rossetti - perséfone)


I

o que floresce em meio ao caos,
se os lobos mastigam o que é cerrado,
os escorpiões continuam afogando
os sapos? E o mundo permanece
si len ci a do.
fragmentos daquele último abraço,
partem-se da hermética caixa torácica.
farfalhaste de olhos pedido de socorro,
eu sei.
minha fé ficou na infância e
a confiança, reside somente na (tua)
natureza.

a you and a me and chaos theory,
lost at the abyssal liquidity,
of circles within cycles within seasons,
shall we find the loophole?
s’il fallait le paradis
même si on lui a perdu
escafandristas, milênios, milênios de
                                                      [verão
quand nous étions sous des couleures
qui nous ont teint avec découverte.
but I might paint it black
before you paint me blue
only because I do not seek Lilac Wine,
ácido, denso, unsteady like


II

Seu gozo às alturas,
meu gozo em ti
e na mais suave tessitura,
que abafou os tambores da traição
- interrompido -
eu (es)colhia flores e alcunha de Perséfone,
tuas vísceras devorei-as todas cruas,
com teus medos untei minhas feridas,
se és Adônis ou Dionísio.

III

– contingência – ipseidade – contiguidade
na concretude desértica
baseada em planalto estéril
onde não se faz história sem métrica.
Chronos e Atlas torturados não só pelo raio,
acometidos com tétano infecto,
da labareda sifilítica
de que que eu tô falando?
 Acho que você olha pra mim, mas não enxerga.
É o Nada?
Ou é a ti mesmo que buscas nesse abismo?
me disseram que coragem grande é poder dizer sim
não me afugento,
mas não sou algoz.
O que me resta, me cabe, te toca?

IV

minha mãe me disse: filha, cuidado com os homens,
meu pai me disse: filha, cuidado com o mundo,
meu irmão perguntou: você ainda tem medo do escuro?
eu que não sei, acho que temo a tudo,
tanto que me jogo epilepticamente lado-a-lado
à côté des mes sentiments, couvertes par inertie
 fumo no pulmão e vinho afogando meu coração.
pé em que estrada, senão a dos caminhos que bifurcam?
pensaram que estar sempre alerta fosse cessar sofrer,
mas não sabem que me doo desde o parto.
para quê cuidar com homens? que amam
sem amar, sem-paixão
cegam ao não enxergar,
– je voudrais ne jamais t’avoir connu, Baudelaire.
antes eu não era insone,
antes eu acreditava.
mentira!
eu disse a eles: nada, pois sou a que sempre se cala.
e se transfigura em sombra taciturna,
para cultuar qualquer luz que se distancie,
qualquer reflexo translúcido que prometa
me flutuar para longe do coração humano;

e além do ponto, a porta que nunca se abre.

(V
se primavera,
outono espera?)

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