segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

-O silêncio também é uma resposta – ela diz num sussurro, me perfura de canto de olho e com um esgar.

Caminha calmamente, como se estivesse caminhando através de mim. Sai pela porta da sala e vai conversar com seu grupinho de amigos. Pra eles, sorrisinhos e risadinhas. Para mim, apenas silêncio. O silêncio que compartilhamos é indecisão. Ela é de uma inconstância que me impossibilita a ação. Permanece muda, com seus lábios selados para mim e, atravessando novamente a sala - a passos lentos - fecha a janela que há poucos instantes havia escancarado. O vento é como geada cortante e ela não tem um agasalho, tão somente porque se recusa a ter. Olha em meus olhos por alguns instantes e, como se mudasse de ideia, transfere sua atenção para a ponta de seus cabelos, as plumas em sua blusa, os cortes em sua mão. O silêncio é a incompreensão imposta. É uma resposta aos meus olhos que sempre encontram os dela a qualquer menção de aproximação. É um encerramento. Vedação nas entradas de ar. Ela não quer que eu a veja. Sentada próxima à janela com os cabelos ao vento, o que ela quer é ser apenas mistério. Há uma névoa em seus cabelos, e foi ela quem a confeccionou. Não há mistério, só um véu negro para encobrir o vazio. Insistir em responder suas epístolas não postadas é minha loucura maior. Recolho do lixo esses pedacinhos da alma dela, tão valiosas confissões. Ignoro não estarem endereçadas a mim, enquanto seus destinatários reais sequer conhecem sua existência.

-O silêncio é um embaraço. O fim desse caminho tortuoso é incognoscível. Estou atada a um passado, em mim sempre presente.

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