domingo, 20 de maio de 2012

Mudança

Certifique-se de ter cuidado com objetos frágeis. Submerja-os em isopor, encaixote, lacre. Ou não. Livre-se dos dejetos, de tudo aquilo que é perecível. Observe bem as datas de validade, atente para o mofo, a podridão. Ainda existe algo, neste instante, que não possui data de expiração? Não existe uma divisão firme entre o efêmero e o verdadeiro, o real e o desolador. Oposições e dicotomias são sistemas de compreensão falhos. Quer ficar junto, mas quer ficar sozinho. Queremos a mesma coisa, não há conflito, tampouco oposição. Esteja junto a mim quando quiseres, eu estarei de braços abertos, pois agora já não mais fecho os olhos e me fecho em um quarto escuro. Abro os braços para o mundo, aceito o que me é dado. Tome parte de seu tempo para si, eu bem sei que aproveito o meu. Todo tempo é tempo livre, tenha consciência. Por mais que haja convenções, horários e obrigações, não seja escravo do relógio: ele não é seu contramestre e sim seu ajudante. Não veja a vida como feita de oposições, faça o que quiser e o que tem que fazer porque o deseja, não porque se sente obrigado. Jogue fora o que já venceu, não prove por falta de opções - desconheço alguém a quem o gosto de ranço apeteça. Guarde o que lhe é precioso, atribua seu próprio valor às coisas e às pessoas - não há mercado para os sentimentos. Estabeleça um equilíbrio entre oferta e procura (não uma oposição), isto é certo, mas não há mercado, nem moeda de troca. Funde um novo lar, transporte a mobilia, aparelhagem e tecnologia que quiser - mas não esqueça dos objetos frágeis. Não os tranque num quarto insalubre e obscuro da memória no qual não ousa mais adentrar. Aceite-os como parte de si, do que já foi e do que pretende. Proteja-os como for necessário, para que não se quebrem na mudança.

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