Onde estão meus modos, se é que já os tive?
Peço desculpas ao homem que em mim esbarra e quase me derruba, peço desculpas ao me exaltar em alguma discussão e acabo cedendo ao desejo de outros - demoro-me com os dedos hesitantes sobre as teclas do telefone e em seguida peço desculpas por te incomodar.
A boa educação matou os instintos.
domingo, 21 de agosto de 2011
domingo, 14 de agosto de 2011
Não consigo lamentar sua perda mais do que lamento a solidão. Mas agora sei que sempre estive só. O que nos deixa alterados é a esperança de que chegue o fim da solidão, enquanto o que nos consome é a certeza de que este só chega com outro fim último: a morte.
Queria poder parar o amanhã de acontecer. (Parar de) Acordar na mesmice. As horas finais de um dia são sempre as mais satisfatórias e as mais angustiantes. O finalismo de tudo que emociona, mas o recomeçar mais uma vez trazido pelo dia seguinte mata. Morrendo cada vez mais, cada dia mais.
A esperança é uma doença. A falta dela é a própria morte.
Acordar para mais um dia em que sinto falta. Em que luto em vão contra minhas (des)ilusões e (des)esperanças.
Meus sentimentos só morrerão no dia em que acabar esse tipo de espera otimista. E a espera nunca acaba porque insisto em me agarrar à esses sentimentos inúteis, suprimidos internamente, sufocados na garganta, ignorados por mim e por ti.
Pensei ter te visto nos mais diversos lugares hoje. Tentei me convencer que era só minha miopia se manifestando, mas eu sabia que também era saudade.
Queria poder parar o amanhã de acontecer. (Parar de) Acordar na mesmice. As horas finais de um dia são sempre as mais satisfatórias e as mais angustiantes. O finalismo de tudo que emociona, mas o recomeçar mais uma vez trazido pelo dia seguinte mata. Morrendo cada vez mais, cada dia mais.
A esperança é uma doença. A falta dela é a própria morte.
Acordar para mais um dia em que sinto falta. Em que luto em vão contra minhas (des)ilusões e (des)esperanças.
Meus sentimentos só morrerão no dia em que acabar esse tipo de espera otimista. E a espera nunca acaba porque insisto em me agarrar à esses sentimentos inúteis, suprimidos internamente, sufocados na garganta, ignorados por mim e por ti.
Pensei ter te visto nos mais diversos lugares hoje. Tentei me convencer que era só minha miopia se manifestando, mas eu sabia que também era saudade.
domingo, 7 de agosto de 2011
Guimarães Rosa
"Ah, mas falo falso. O senhor sente? Desmente? Eu
desminto. Contar é muito, muito dificultoso. Não pelos anos que
se já passaram. Mas pela astúcia que têm certas coisas passadas –
de fazer balancê, de se remexerem dos lugares. O que eu falei foi
exato? Foi. Mas teria sido? Agora, acho que nem não. São tantas horas de pessoas, tantas coisas em tantos tempos, tudo miúdo
recruzado. Se eu fosse filho de mais ação, e menos idéia, isso sim,
tinha escapulido, calado, no estar da noite, varava dez léguas,
madrugada, me escondia do largo do sol, varava mais dez,
passava o São Felipe, as serras, as Vinte-e-Uma-Lagoas,
encostava no São Francisco bem de frente da Januária, passava,
chegava em terra cidadã, estava no pique. [...] Mas
eu fui sempre um fugidor. Ao que fugi até da precisão de fuga.
As razões de não ser. O que foi que eu pensei? Nas
terríveis dificuldades; certamente, meiamente. Como ia poder
me distanciar dali, daquele ermo jaibão, em enormes voltas e
caminhadas, aventurando, aventurando? Acho que eu não tinha
conciso medo dos perigos: o que eu descosturava era medo de
errar – de ir cair na boca dos perigos por minha culpa. Hoje, sei:
medo meditado – foi isto. Medo de errar. Sempre tive. Medo de errar é que é a minha paciência. [...]
Acho que o espírito da gente é cavalo que escolhe
estrada: quando ruma para tristeza e morte, vai não vendo o que
é bonito e bom. [...]
Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo as coisas de rasa
importância. De cada vivimento que eu real tive, de alegria forte
ou pesar, cada vez daquela hoje vejo que eu era como se fosse
diferente pessoa. Sucedido desgovernado. Assim eu acho, assim é
que eu conto. O senhor é bondoso de me ouvir. Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras, de
recente data. [...]
Toda saudade é uma espécie de velhice."
desminto. Contar é muito, muito dificultoso. Não pelos anos que
se já passaram. Mas pela astúcia que têm certas coisas passadas –
de fazer balancê, de se remexerem dos lugares. O que eu falei foi
exato? Foi. Mas teria sido? Agora, acho que nem não. São tantas horas de pessoas, tantas coisas em tantos tempos, tudo miúdo
recruzado. Se eu fosse filho de mais ação, e menos idéia, isso sim,
tinha escapulido, calado, no estar da noite, varava dez léguas,
madrugada, me escondia do largo do sol, varava mais dez,
passava o São Felipe, as serras, as Vinte-e-Uma-Lagoas,
encostava no São Francisco bem de frente da Januária, passava,
chegava em terra cidadã, estava no pique. [...] Mas
eu fui sempre um fugidor. Ao que fugi até da precisão de fuga.
As razões de não ser. O que foi que eu pensei? Nas
terríveis dificuldades; certamente, meiamente. Como ia poder
me distanciar dali, daquele ermo jaibão, em enormes voltas e
caminhadas, aventurando, aventurando? Acho que eu não tinha
conciso medo dos perigos: o que eu descosturava era medo de
errar – de ir cair na boca dos perigos por minha culpa. Hoje, sei:
medo meditado – foi isto. Medo de errar. Sempre tive. Medo de errar é que é a minha paciência. [...]
Acho que o espírito da gente é cavalo que escolhe
estrada: quando ruma para tristeza e morte, vai não vendo o que
é bonito e bom. [...]
Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo as coisas de rasa
importância. De cada vivimento que eu real tive, de alegria forte
ou pesar, cada vez daquela hoje vejo que eu era como se fosse
diferente pessoa. Sucedido desgovernado. Assim eu acho, assim é
que eu conto. O senhor é bondoso de me ouvir. Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras, de
recente data. [...]
Toda saudade é uma espécie de velhice."
sexta-feira, 5 de agosto de 2011
-Eu queria conversar.
Ela tinha tanta coisa para lhe falar, mas não sabia nem por onde começar, tampouco quão longe deveria ir. Ele responde do outro lado da linha, sem suspiros e sem hesitação:
-Claro, passa aqui.
Sua voz é firme e tranquila. Ela sente que dessa vez será capaz de dizer pelo menos alguma coisa. Respira fundo.
-Tá bom.
Os minutos se arrastam enquanto ela dá voltas na cadeira giratória, os olhos fixando-se a cada segundo em um objeto diferente do quarto, incapaz de fixar o seu olhar no dele.
-Não sei porque é tão difícil.
Ele se aproxima, os olhos dela se fixam nos dele agora.
-Não tem problema.
E a medida que os braços dele a envolvem, ela sabe que não será capaz de dizer mais nada. Enquanto estivesse ali, não tinha problema.
-Tudo bem, vai ficar tudo bem.
Ela tinha tanta coisa para lhe falar, mas não sabia nem por onde começar, tampouco quão longe deveria ir. Ele responde do outro lado da linha, sem suspiros e sem hesitação:
-Claro, passa aqui.
Sua voz é firme e tranquila. Ela sente que dessa vez será capaz de dizer pelo menos alguma coisa. Respira fundo.
-Tá bom.
Os minutos se arrastam enquanto ela dá voltas na cadeira giratória, os olhos fixando-se a cada segundo em um objeto diferente do quarto, incapaz de fixar o seu olhar no dele.
-Não sei porque é tão difícil.
Ele se aproxima, os olhos dela se fixam nos dele agora.
-Não tem problema.
E a medida que os braços dele a envolvem, ela sabe que não será capaz de dizer mais nada. Enquanto estivesse ali, não tinha problema.
-Tudo bem, vai ficar tudo bem.
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