terça-feira, 19 de abril de 2011

Sentir, sentir e não agir

O problema é sempre sentir demais e agir de menos. Mas se não ajo é de modo a não prolongar sentimentos como a angústia, sensações como a taquicardia. Não nasci para noites insones e, ainda assim, morro um pouco mais dentro da escuridão sombria a cada dia que passa. Talvez minha única dor seja a de nunca ter sentido uma dor real, enquanto fui capaz de perceber a dor presente nos olhares mortos, nos sorrisos enferrujados e até mesmo nas almas rasas, as mais dolorosas para aqueles que com elas entram em contato, pois não conseguem se expandir e se aprofundar devido as limitações de um corpo.

A dor que sinto, ao perceber que apesar de tudo você ainda sorri, só aumenta.

Eu sempre soube que você era incapaz de me compreender, pois percebi que você não buscava pelo sofrimento. Como todas as pessoas saudáveis, você só queria ser feliz. Enquanto isso, ignorando todas as evidências da minha insanidade, eu queria entender das tormentas, do terror, da angústia, do pesar. Eu tentava compreender mesmo estando ciente que não havia nada de errado com a minha vida. Nada de muito grave. Ninguém havia morrido, ninguém passava fome, tudo em meu corpo estava inteiro e no mais perfeito funcionamento. Contudo, eu sabia que algo estava em pedaços, que algo estava muito errado.

Você nunca entenderia e eu não sei até que ponto você tentou. O fato é que é melhor que você não sinta o que eu sinto, mesmo que isso resulte nesse crescente abismo que se encontra entre nós. Mesmo que isso signifique que eu vou continuar sozinha.
Por vezes, tive esperanças de que você conseguisse me contagiar com a sua saúde. No entanto, soube que devia me afastar para evitar que você se contaminasse com a minha doença.

Eu não havia experienciado o verdadeiro sofrimento, nada estava errado e eu continuava me encontrando, ao procurar meu lugar dentro deste mundo hostil, em meio à solidão. Quanto à minha busca, optei por procurar pela dor já que esta sempre me pareceu mais alcançável do que a felicidade - uma noção para mim um tanto quanto abstrata e intangível.

Enquanto procurava aquilo que sempre está em sobra no mundo, muito embora estivesse em falta no meu mundo, distanciei-me cada vez mais da felicidade e arrastei, inconscientemente, as pessoas ao meu redor junto comigo.

Pensei muitas vezes em me desviar para o caminho da auto-destruição. Mas eu sabia que, não importava o quanto eu tentasse encontrar aquilo que eu ainda não sabia o que era, se montasse uma escala entre a alegria e o pesar e escolhesse qualquer uma das variações, meu interior continuaria vazio, meu peito restaria inerte. E no fundo eu já sabia qual era o meu verdadeiro problema.

Eu não sentia nada.

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