Há a
realidade e há o medo. A realidade do medo da folha de papel em branco me
encarando. O medo da realidade que pode ser revelada por ela. A realidade dos
escritos sem destinatário que ecoam medos em sua superfície. O que é escrito é
como a fotografia revelada. E se o filme tivesse sido queimado, mofado,
esquecido no fundo da sua gaveta de meias encardidas? Quisera poder esquecê-lo;
tudo que é ideado e prometido. Mas a mente insiste em firmar suas armadilhas. O
que eu sinto é real, mas o que escrevo é cópia dos grandes mestres. O sem-nome abarca o eu, o tu, o ele. O sem-nome é
tudo. O eu... que palavra-conceito desprezível. Que prisão. Quando sou eu, sou
densa. Quando tento olhar além de mim, me desmorono. “A língua transforma o
caos em cosmos”... que falácia de linguista. Nem quando ouso me expressar é
expelida a verdade. Mas há o medo da verdade. Ou o medo de que a verdade seja
inescrutável? A escuta não é contraparte necessária da fala e falamos sozinhos
indefinidamente. Havia olhos no escuro, ou pelo menos foi o que sonhei. Houve o
conforto ilusório da palavra. Palavra que é pássaro e admiramos noite adentro.
O pássaro também não tem nome. Ele tem asas e não as utiliza. Suas plumas
brancas estão sujas de terra nas pontas. Mas ele goza de aparente liberdade.
Liberdade – medo irreal. Palavra-pássaro. Promessa-prisão. Ele tem nome, mas você o esqueceu.
segunda-feira, 7 de setembro de 2015
quarta-feira, 2 de setembro de 2015
Emily Dickinson (1830–86). Complete Poems. 1924.
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Part One: Life
LII
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LXXVIII
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terça-feira, 1 de setembro de 2015
Corpo de madeira
frágil forma esculpida
pelas mãos insuspeitas
do artesão.
Assim, ele me toma para si.
pelas mãos insuspeitas
do artesão.
Assim, ele me toma para si.
A mudez é surda onde
sequer ousam ressonar
as juntas amedrontadas
sobre seus joelhos rijos.
O coração sói estar vivo,
O coração sói estar vivo,
onde a libertação
última
é o suicídio.
O corpo de macho
do ardiloso ventríloquo
ordena-me e eu sorrio
senta-te e te sirvo
deita-te e te aprazo
silencia-me.
Corpo de fêmea,
território a ser clamado,
cerceado, devastado,
erodido, abandonado.
Louca! Estúpida!
É a mulher que foge
e vive sem mordaça.
Há que preferir a resignação:
sentar em seu colo,
estar de joelhos,
mas nunca a seu lado.
Mulher quando convém:
boneca infalível de corpo
alienado.
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