quarta-feira, 15 de abril de 2015

Esbocei chamar teu nome. Não soube qual alfabeto utilizar. Desenhei o contorno do teu rosto com as cinzas de um cigarro. Possuía uma estranha serenidade. Reconhecimento inexprimível – a sensação familiar que tive rememorando ver-te pela primeira vez. Enchem-se de água minhas retinas, marulhas minh’alma e ainda assim minhas pupilas seguem ressecadas. Ouço alguém que passa na rua a assobiar uma velha canção, uma canção que poderia ser a mesma usada por meu pai usava para me ninar. Abro a boca mais uma vez. É que o nome está na ponta da língua, mas não pode ser exprimido. É aquilo que foi dito inconscientemente quando eu estava de carona em sua bicicleta – mas não me lembro se era verão ou inverno. Você fazia um esforço tremendo e eu só te observava. Você olhava pra frente. Fizera menção de te beijar quando paramos no sinal e, quando você reparou, voltou a pedalar novamente.
Penso em quantas casas já tive ao redor do mundo e em como a nenhuma delas realmente pertenci. Você acende outro cigarro enquanto eu termino mais uma garrafa de cerveja. Solto um arroto involuntário e, antes que perceba, sorrio com naturalidade. Você me olha com ternura, parecendo se conter para não dizer novamente “sos muy linda”. Eu fecharia a cara instantaneamente e te repreenderia por seus cumplidos baratos.
-You drink like a russian boy. – você diz simplesmente, após um trago demorado em seu décimo cigarro.
-Por qué hablas conmigo en inglês?, yo demando.
Me confundo com aquele idioma. Que língua deveria falar? Olho para tuas íris furta-cor, não sei mais se és preto opaco ou límpido azul. Faço com meus dedos o contorno do teu rosto, a bituca do cigarro já apagada – triangular, redondo? –não obtenho forma alguma. Wo bist du? Was suchst du? Was willst du?
Eu quero te tocar, mas não sei quem é você, quando faço menção de te abraçar e você se afasta. O nome que devo chamar me escapa novamente. Não sei em que língua devo falar, não sei onde posso te encontrar. Meus amantes se mesclam em minha mente inquieta. Delirium tremens!, já não sei mais qual era aquele líquido que sorvia de tua boca entreaberta, essa fumaça que tragava de seus lábios pálidos. Quer dizer, eu quero te dizer, eu quero te dizer... Eu quero-te, sem ter que dizer mais nada, sem ter que me explicar. Há maneiras de tê-lo, sem saber quem é você?
Eu quero tocar o mundo. Eu não quero mais estar sozinha. É esse o preço a se pagar?
Só não vá se perder por aí...

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