quarta-feira, 25 de junho de 2014

“Eu sinto sua falta”, é o sussurro mudo que não transpõe meus lábios finos. É o protesto interior que não supera a barreira de minha garganta rouca. Não saber onde ele está é liberdade. Não saber onde eu estou é a realidade. E o amor, como ficou? Não foi sufocado, liberou-se de garras afiadas para que pudesse prevalecer. Então ele é metafísico... Pior do que não se poder aprisionar, é não se poder compreender... Será que eu o inventei? Será que eu te inventei? Eu me reivento todos os dias para me acabar igual.

O apelo desvanece
O afeto prevalece.

“Vamos ser estupidamente felizes enquanto é tempo”, eu quero te dizer enquanto beijo suavemente sua têmpora, invadida por uma felicidade que só você pôde me apresentar. Mesmo que eu me agarre a ti com toda a força, mesmo que eu durma em cima de você com a cabeça no seu peito, não vamos nos fundir... Percebe o erro? Dois corpos não ocupam o mesmo lugar. Mas, mas o amor é meta-físico, e não Física. Ele não obedece, ele é teimoso, ele é? De ser, de presença? O que será que Heidegger pensava disso?

Você cala minhas indagações com um beijo preciso, de sutileza e ritmo como só você faz... Lembro-me de quando cantarolava pela casa envolta num cobertor “só tinha de ser com você, havia de ser com você”, o coração quase explodindo dentro do peito, porque não cabia mais, porque queria voar. É, ele é, é o amor. Mas era. Não é mais assim, é de outro jeito. É de lembrar da sua gentileza, de que você cuida de mim. Só que você diz que não quer mais filosofar, “vamos deixar a filosofia pra próxima vida que essa a gente vive”. Eu que desperdicei tanto tempo com filosofia alemã... Ser e Tempo a gente descobre, a gente explora, a gente não universaliza. Cada um faz por si só e daí a gente se encontra. “A gente se encontra”, eu insisto honestamente. Mas é que eu + você era nós, agora eu sou eu' e você é você', não sei o resultado da soma desses fatores... É que eu tenho essa ilusão de que eu tô sempre mudando. É que a gente tá sempre se conhecendo cada vez mais, sem conseguir conhecer tudo do outro.

“Não precisa ter medo”, e eu precisaria de um superlativo pra insistência, porque de tanto insistir, e de tanto tentar te convencer eu vi que eu estava tentando convencer a mim mesma. É que eu não sei, sabe? Eu sei que você sabe, que você acha que sabe, e está tão envolto em suas certezas e uma das suas certezas é o seu amor por mim... E daí como eu fico? Cruel. Eu fico sendo a pessoa mais cruel que eu já conheci em toda a minha vida, porque não importa se eu choro todo dia, se você chora todo dia, e se nós continuarmos chorando separadamente... Porque o que eu quero é te ver sorrir, mas eu queria poder sorrir também. É, era isso que eu queria. Dá pra acreditar? Mas aí eu venho pra você com essa proposta abstrata, de que não quero casar e que só quero sorrir. Você só diz “eu também não quero casar, quando eu disse que queria casar?”. Mas não é esse o ponto, não é - o ponto é. Um ponto final? Não, eu ponho reticências, são vários pontos, afinal. Será que eu é que não sou clara? Desculpa, eu sei que você não quer mais filosofar... Eu não posso te dar só o que você quer, sabe?

“Só vamos ser estupidamente felizes, será que a gente ainda consegue?”.

O afeto prevalece, só um pouco cansado...

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