Sempre agarrada firmemente ao corrimão, nunca soube como se soltar. A segurança era agradável, enquanto sua vista se estremecia com um simples relance de uma queda livre.
Qual era o sentido de se atirar, e porque as pessoas faziam isso? A queda podia ser libertadora, mas compensava o impacto de atingir o chão duro e frio?
Mas mesmo assim sentia frio. O aperto firme que envolvia as grades cilíndricas começava a se afrouxar. Pra que segurar com tanto afinco? A esperança de que sua mente fosse preenchida apenas por vazio, que o vácuo adentrasse por seus ouvidos, boca e nariz e preenchesse sua cabeça com o nada a impelia a se soltar.
As vozes continuavam, vindas de todas as direções, gritos e sussurros, apelos, súplicas, réplicas, tréplicas. Havia se esquecido qual era o som do silêncio. A visão do abismo tornava-se ainda mais tentadora. Solidão & Silêncio.
Sabia ser impossível ser livre enquanto ainda estivesse presa. Contudo, seria a liberdade realmente desejável a medida que era necessário que fosse capaz de se atirar, sem ao menos pensar? Era, então, impossível ser livre enquanto ainda estivesse pensando.
Não percebeu quando o aperto afrouxou-se tanto de maneira a ser vencido pela gravidade. A sensação da queda era indescritível. Como não houve pensamento, não havia palavras. O coração não pulsava mais em sua gaiola torácica, pois a pulsação agora se dava em todos os lugares. A pulsação subjugara a corrente elétrica neuronal, os instintos venciam a mente.
Só que durou por apenas uma fração de segundo. Brevíssimo. O chão era concreto, duro e frio, de fato. De fato, a sensação passara e só sobravam os fatos. Havia também a dor. E essa não pulsava, pois era pontiaguda e profunda.
Juntar os cacos parecia impraticável. E qual seria o objetivo? Içar-se, patética e trêmula, para agarrar-se, assustada e retraída, à grade firme? A liberdade viria tentá-la novamente. Porém, a perspectiva de soltar-se novamente era terrível. Arriscar-se não valia a pena.
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