quarta-feira, 9 de julho de 2014

Meu coração está pequenininho, de tão apertado. Pulsa cansado, bate
calado. O esforço hercúleo não dissipa a angústia. Sim ou não, sim ou
não, sim ou não?, ecoa o ritmo moroso da agonia. Se eu pudesse
confirmar o não, ao menos essa luta findaria. Não há maço de cigarro
que apazigue essa tensão. Minhas mãos tremem, minha respiração dói.
Causa-me dor física. Sinto-te em minha corrente sanguínea,
entupindo-me as veias. Em minhas sinapses nervosas, corroendo meus
neurônios. De tanto pensar, de tanto sentir... Concluo: não consigo
amar, pois não consigo sofrer. Ou o problema é de outra ordem? Consigo
amar, consigo amar com a intensidade da troca de olhares ininterrupta,
com a abruptidão do toque, com a fluidez do pensamento. Mas não sou
capaz de grandes gestos. Então me ocorre... eu é que sou inamável.
Antes nunca tivesse sido amada, antes nunca tivessem professado amor
algum por mim. Mas eu não sei me fazer digna desse pedestal imposto,
quando me sei mundana e profusa. Não sei mudar por alguém e não mudar
por mim. Não sei permanecer, estatizar. Não sei...

E sinto frio. Frio em meus ossos, frio em minha alma. O anjo que me
toca traz com si uma foice, é o anjo da morte. Sua penugem não irradia
mais o reflexo dos raios de sol, enegrecendo-se frente ao meu abismo.
Contaminando-se com minhas lágrimas sujas de lama, minha culpa
condensada. O amor não (me) salva, tampouco (me) basta. O que eu
quero? Não é que já não sabemos mais, eu nunca soube... Nenhuma
resposta permanece frente ao golpe das novas perguntas, o nevoeiro das
dúvidas. Que paira sobre minha cabeça, que intoxica os meus pulmões. É
gélido e cortante. É fatal. Se eu não dependesse de outrem, se eu
apenas me entregasse ao abraço do anjo da escuridão. Se eu me
entregasse ao abismo. Tentei ser luz, tentei viver plenamente o verão.
Não posso. Cri que teu conforto aplacaria minha solidão. Não podes. Tu
crês em deuses distintos, e eu apenas vejo escuridão. Não há branco
que não se suje. E permaneço nesse tom cinzento relutante, enquanto
meu anjo espera minha resignação para que possa me tingir de negro.
Agora morre a muda em mim plantada, que antes floresceu na primavera.
Caducifólios, todos nós. Perenifólio você, que resiste à mudança das
estações. Somos espécies diferentes. Tentei ser verão, mas o frio me
toma para si. Minhas mãos geladas tremem. O anjo me estende a mão. Eu
peço por mais tempo, eu vos suplico, sou jovem, tempo é que não me
falta. Ele toca minha face com seus dedos finos. Não sinto mais frio,
e ele promete que não vou mais sentir. Eu o abraço, peço perdão. Já é
tempo, diz o anjo docemente. Ele me consola com seu abraço etéreo.
Abrace o inverno, logo mais serás verão novamente. Eu o seguro
firmemente, eu te suplico, já não aguento mais uma mudança de estação.
Ele aplaca meu aperto feroz, é a passagem inevitável dos anos, minha
querida, até que eu me utilize desta foice em ti. Meus pensamentos não
se materializam, mas ambos sabemos o que passei a idear. Sem ideias
tolas, ele diz em tom definitivo. Eu fito intensamente seus olhos de
gelo, passando meus dedos por seus cabelos cor de neve. Toma meu
beijo, anjo guerreiro, que junto contigo também vou guerrear. Sinto
seus lábios gentis, sua língua sutil, o gosto das suas lágrimas. Eu te
amo, ele diz firmemente, eu estarei aqui conquanto estiveres decidida
a vencer o inverno interminável em seu coração. Eu te amo não de te
imaginar, é de te sentir, de te metabolizar - continua, ainda com os
braços envoltos em mim. E eu sinto os raios de luz que dissipam o
gelo. Eu sei.

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