segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Cinzas

O otimismo estava fora de época. Quando se podia sentir a decadência no ar pesado e sujo ao redor, o mal estar era quase que instantâneo. Ele distinguiu a silhueta dela em meio a fumaça. Lembrou-se de esperas prévias em que a tensão dos meses de expectativa finalmente tornavam-se palpitações descontroladas que começavam no peito e tentavam subir pela garganta. E o mal estar ia embora quase que instantaneamente. Vários dos encontros foram assim. Até que a presença dela não era mais capaz de dissipar o seu desassossego.

Naqueles dias só podia acender um cigarro, observar o pranto ruidoso dos céus batendo contra sua janela e os carros avançando em meio à enxurrada. E não dava uma sequer tragada no cigarro, segurava-o firmemente entrededos e sobre o cinzeiro, mas perdia-se entrementes; incapaz de consumi-lo, deixava-o consumir-se por si só. Enfim, piscava bruscamente ao sair do transe e observava aquilo que restara: cinzas, e cinzas apenas.

"Você anda fumando demais."

Mas você não entende? Como você não consegue ver? Tudo são cinzas, e o que não era cinza se dissolvia em fumaça.

Nenhum comentário:

Postar um comentário