quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Despedida

Despedida
Fui a estação naquele dia com o coração dormente. Não podia sentir nenhuma emoção propriamente dita, exceto a ansiedade por causa da dúvida a respeito do que viria após a despedida. Seria um vazio? Alívio? Arrependimento?
Coloquei-o dentro do trem e certifiquei-me quanto a sua prontidão a realizar aquele caminho só de ida. Nunca achei que fosse capaz de dar aqueles passos para me afastar e observá-lo da plataforma enquanto partia numa locomotiva. Do outro lado da linha do trem uma mulher alta, de postura imponente e olhar perfurante me fitava. Não reconheci-a instantaneamente, mas a partir de suas palavras duras fui capaz de identificar meu alter ego.
-Parece então que você optou por se tornar uma pessoa bem comum. - o desprezo destilava de sua língua como veneno.
Olhei então para o trem que estava prestes a sumir no horizonte. O vazio agora presente em meu peito parecia anunciar a saudade permanente que a partir de então me acompanharia, pois eu havia deixado alguém querido ao abandono definitivo.
-Você nunca percebeu? - perguntei. E, embora tenha dado uma pausa, não esperava por nenhuma resposta. Possivelmente, só quis adicionar um pouco de dramaticidade à minha fala. - Isso é tudo que eu sempre quis.
Então senti o alívio suprimir o remorso que ameaçara tomar conta de mim por causa de meu ato supostamente imperdoável. Sim, felizmente, uma vez que havia abandonado meu Sonho de grandeza naquele lugar, apesar de ter perdido o companheiro de uma vida toda, perdi também uma carga equivalente ao peso do mundo - do meu mundo, pelo menos - que estivera carregando por todo esse tempo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário