terça-feira, 13 de julho de 2010

Intitulável

Subi as escadas com a expectativa em minha mente que logo transformou-se em agitação no peito e arrepio na espinha, ao abrir a porta e vê-lo ali, em seu lugar costumeiro, atrás de uma mesa estreita. Fechei a porta com um baque surdo e apressei-me para a sair de seu campo de visão, tentando evitar um temível encontro dos seus olhos nos meus. Temível e, ao mesmo tempo, altamente desejável, pois, por um breve instante antes que a vontade de desintegrar-me até a menor partícula me arrebatasse, o efeito daquele olhar transcendental seria de expandir minha alma de modo que eu vislumbrasse todos os lugares ainda que inerte, mergulhada numa letargia sublime. Resisti. Dirigi-me, discreta e apressada, ao fundo da sala. Sentei-me desejando e temendo que seu olhar tivesse me acompanhado até onde eu estava agora. Engajei-me em uma conversa sem rumo e sem nexo, apenas contribuindo com algumas palavras soltas, enquanto esperava que o efeito que ele exercia sobre mim passasse - efeito tal que eu sempre considerava plenamente superado até que me encontrasse com ele novamente.

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